Na segunda-feira 13, Michael Jackson entrou na Corte de Santa Maria, do Condado de Santa Bárbara, na Califórnia, sob a proteção de 11 pessoas e da divindade Exu. Uma braçadeira com as cores vermelho, negro e dourado indicava o tributo ao orixá. Catorze semanas atrás, quando fizera o mesmo percurso para responder a dez denúncias criminais – entre elas a de ter molestado sexualmente um menor –, o cantor havia ostentado o pendão branco de Oxalá. As escolhas da sequência de homenagens aos santos fora feita pela cozinheira, brasileira, mineira, com grande prestígio junto às entidades do panteão nagô, como revelou ISTOÉ na edição 1843, em fevereiro. Ela, cujo nome é mantido em sigilo, e mais um time de advogados semideuses, liderados por Tom Masereau, compunham a equipe de defesa do réu. Naquele dia de Exu, depois de 32 horas de deliberações, o corpo de jurados – oito mulheres e quatro homens – havia chegado aos veredictos, que somados poderiam impor 20 anos de cadeia ao astro. Em todas as acusações, Jackson foi considerado inocente.

Os orixás, diga-se, não tiveram muito trabalho para operar este milagre. Como disse um dos jurados (identificados apenas por números) na coletiva de imprensa após o veredicto: “As provas incontestáveis da culpabilidade de Michael Jackson simplesmente não existiam. Em todas as acusações, a promotoria não conseguiu provar sem sombra de dúvidas a culpa do réu.” A promotoria, comandada por Tom Sneddon Jr., havia promovido um jantar da vitória dias antes do desfecho do julgamento. Afobados, como se sabe, comem cru ou queimam a boca. Sneddon, desde 1993, movia uma cruzada para trancafiar o cantor por crimes de pedofilia. Há 13 anos ele viu seus planos arruinados em outro caso contra Jackson, quando vítima e acusado chegaram a um acordo, fora do tribunal, que valeu US$ 20 milhões para a família de um garoto que teria sido molestado. A caçada para o promotor de Santa Bárbara não parou. O rancho Neverland (Terra do Nunca), de Michael, foi vasculhado inúmeras vezes. O Rei do Pop foi obrigado a submeter seu órgão genital a sessões de fotografias, que foram exibidas em corte. Alegava-se que aquela parte da anatomia do réu possui características distintas, que foram detalhadas pela vítima – um menino de 13 anos, que era canceroso quando supostamente observou ao vivo as características. Elas seriam manchas – uma composição em chiaroscuro – e envergadura para a esquerda, de acordo com quem teria visto a coisa.

Lição – Nem mesmo o reconhecimento da excentricidade genital foi capaz de impressionar os jurados. O que mais desagradou ao júri foi a mãe da suposta vítima, que, com o dedo em riste, praticamente ordenou que condenassem o réu. O garoto, hoje com 15 anos, acabou se contradizendo. Testemunhas da promotoria, os dois passaram a ser vistos com desconfiança, segundo um jurado. Para Jackson, ficou a lição. Seu advogado declarou que, a partir de agora, os únicos menores de idade com permissão para entrar em Neverland são os filhos do cantor. Deste modo, o astro vai procurar recuperar os US$ 280 milhões que, ele diz, compõem suas dívidas. O que não será fácil para alguém cuja carreira foi condenada à estagnação há muito tempo. Neste trabalho, os orixás evocados pela cozinheira terão de operar um milagre portentoso.