Imagine-se diante da tela de seu computador ou da tela de seu televisor, sentindo o cheiro de frutas que nelas apareçam. Imagine equipamentos capazes de gravar e reproduzir perfumes da mesma forma que corriqueiramente já gravamos e reproduzimos imagens e sons. Tudo isso, que um dia parecia inimaginável, está agora debaixo do nosso nariz – e o mundo virtual aproxima-se cada vez mais, e mais rapidamente, da vida real. Os engenheiros do Instituto de Tecnologia de Tóquio estão desenvolvendo um dispositivo que consegue analisar perfumes e exalá-los eletronicamente, valendo-se de uma série de substâncias químicas – nenhuma delas tóxica ao organismo humano, aos animais ou a plantas. É só clicar um botão e os aromas brotarão dos aparelhos. Será possível, por exemplo, experimentar uma nova fragrância, relaxar com o aroma da natureza ou, até mesmo, sentir o cheiro de um bom prato de comida. “Já conseguimos até diferenciar, virtualmente, o aroma de uma maçã verde do cheiro de uma maçã vermelha”, diz Pambuk Somboon, do Instituto de Tecnologia de Tóquio.

Conseguir repassar eletronicamente um determinado cheiro para o outro lado da tela é um sonho que nos últimos tempos embala cientistas de todo o mundo. Nos EUA, a Sony passou a última década pesquisando e desenvolvendo um aparelho de televisão que permita aos telespectadores não só ver, mas, também, “cheirar” o que é transmitido. No ano passado, aproximou-se de seu objetivo patenteando um protótipo que emite sinais de ultra-som para estimular a região em que estão no nosso cérebro as células nervosas responsáveis pelas lembranças olfativas. No Brasil, o Departamento de Física da Pontifícia Universidade Católica de Pernambuco também avançou nesse sentido e chegou a enviar ao Ministério da Ciência e Tecnologia um projeto de pesquisa e criação de um emissor de odor capaz de ser conectado à futura TV digital. Saltando dos projetos para a realidade, a japonesa NTT Communications já comercializa, a US$ 680, o pequeno Gadget, que pode ser instalado ao lado de um computador e transformar em fragrância dados recebidos pela internet. Ocorre, porém, que o Gadget opera com um número limitado de aromas e um aparelho desses só brilhará no mercado quando puder emanar, de forma idêntica a da natureza, uma grande diversidade de cheiros. “Quanto mais real, melhor a aceitação do público”, diz Somboon.

É nesse ponto que o Instituto de Tecnologia de Tóquio tem muito o que comemorar. Na semana passada, os seus pesquisadores anunciaram a construção de um sistema que opera com 15 microchips químico-sensoriais, todos eles funcionando como precisos narizes eletrônicos capazes de captar e gravar um vasto leque de aromas. Cada chip é tão sensível que basta o mais leve contato com uma determinada substância, como, por exemplo, as moléculas de um refrigerante, para que ela seja absorvida, analisada e, se for caso, transmitida virtualmente. Construídos com material sintético e munidos de circuitos eletrônicos, esses chips reagem de forma diferente à cada molécula responsável pela emissão de um determinado odor. Essa “sinfonia” de moléculas químicas cria uma espécie de receita digital com uma seleção de 96 fragrâncias básicas. Ao serem processadas e combinadas, se reproduz com extrema fidelidade, só que de forma virtual, o que o nosso cérebro naturalmente já reconhece no campo olfativo.

A formação e a existência desse banco de odores, gravado por exemplo num computador, é a mãe dessa grande novidade tecnológica. Só de brincadeira, imaginemos um local de trabalho. Quem tiver armazenado em seu equipamento o cheiro de um bom cafezinho, só precisará clicar a programação para espalhá-lo pelo ambiente, através da tela do computador. Para ter uma idéia da complexidade desse banco que guarda e seleciona cheiros, basta lembrar que nós possuímos em nosso cérebro 347 sensores olfativos – cada um deles com milhões de informações. “Isso torna necessária uma grande quantidade de bases químicas para que reproduzamos um único aroma”, diz Somboon. Até mesmo a Agência Espacial Americana (Nasa) entrou no desafio de desenvolver tecnologias que possam transmitir, através da tela da tevê, a fragrância do perfume que a protagonista de uma novela está usando enquanto beija o mocinho do enredo. Com o mesmo sistema de chips desenvolvido pelos cientistas de Tóquio, a Nasa criou um nariz virtual chamado Enose, com 1,2 mil sensores de odor e dez vezes mais sensível que o nariz humano. “Ele consegue distinguir o aroma da Pepsi-Cola em relação ao aroma da Coca-Cola”, diz Amy Ryan, do Laboratório de Propulsão a Jato da agência americana.


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