Quando um bando de pássaros consegue interferir na liberação dos recursos de um projeto de R$ 670 milhões, é sinal de que algo está realmente em transformação no mundo das finanças. Foi exatamente o que aconteceu na construção do parque eólico Ventos do Sul, inaugurado no final de junho em Osório, no Rio Grande do Sul. Os estudos sobre o impacto ambiental da obra indicaram que os aerogeradores seriam instalados em plena rota de migração de aves. O Banco do Brasil só liberou a sua parte – R$ 100 milhões – quando as hélices mudaram de local para garantir a passagem segura das andorinhas e dos bem-te-vis.

Não se trata de um caso isolado. Outros bancos, como Bradesco e Itaú, têm utilizado critérios socioambientais para financiar projetos de grande impacto nas comunidades onde são instalados. Questões como poluição, preservação da biodiversidade, segurança e saúde de trabalhadores e habitantes em volta dos empreendimentos são essenciais para a concessão – ou não – dos recursos. Não há dinheiro, por exemplo, para quem polui ou contrata mão-de-obra infantil. Banco do Brasil, Bradesco e Itaú seguiram a trilha aberta pelo Banco Real, um dos primeiros a adotar políticas de respeito à natureza e à sociedade em suas linhas de crédito e investimentos. No início de julho, eles também aderiram à segunda versão dos Princípios do Equador, um conjunto de normas elaboradas por um grupo de bancos em conjunto com a International Finance Corporation, do Banco Mundial.

O documento que agora entra em vigor é uma evolução da primeira versão dos Princípios do Equador, de junho de 2003. O número de signatários subiu de dez para 40 bancos e as exigências devem atingir um número maior de empresas: projetos com custo total a partir de US$ 10 milhões (R$ 22,1 milhões) serão submetidos ao crivo socioambiental. Antes, as exigências começavam a partir de US$ 50 milhões. “As empresas que não ligavam muito para as questões ambientais vão ter de se preocupar. Caso contrário, não conseguirão financiamento”, diz Maria Estela de Campos, gerente de projetos do banco de investimentos Itaú-BBA, do Grupo Itaú.

Somente o Itaú tem dez projetos, avaliados em R$ 5 bilhões, sujeitos aos Princípios do Equador. Em 2005, o Real analisou 15 projetos que somaram R$ 2,85 bilhões. Entre eles havia usinas hidrelétricas e eólicas, linhas de transmissão, gasodutos e projetos imobiliários. Dois foram reprovados: um por não cumprir os critérios ambientais e outro porque parte da comunidade afetada não concordava com sua construção. Recentemente, o ABN Amro negou-se a financiar novos projetos de empresas envolvidas com a extração ilegal de madeira. No HSBC, cuja matriz na Inglaterra aderiu ao acordo, sete pedidos de crédito foram negados no ano passado.

Além de seguir políticas responsáveis na concessão de empréstimos, os bancos mais engajados comprometem-se a seguir os Princípios do Equador quando auxiliam as empresas a captar recursos no mercado de capitais com o lançamento de ações ou debêntures. “Os novos parâmetros trazem um cuidado maior com a transparência e a minimização dos riscos desde o início dos projetos”, afirma Domingos Figueiredo de Abreu, diretor executivo do Bradesco.

Para os bancos, além de cultivar uma boa imagem pública, essas políticas reduzem os riscos de prejuízos com ações referentes a eventuais danos ambientais provocados por seus clientes. Nos EUA, a “onda verde” surgiu no final da década de 1990, quando o Fleet (antigo proprietário do BankBoston) foi penalizado por ter emprestado recursos a uma companhia que despejava poluentes num rio próximo à cidade de Boston. Hoje, os ambientalistas querem ampliar ainda mais o alcance das políticas preventivas. “Todos os tipos de empréstimos deveriam obedecer a diretrizes de respeito à natureza e à comunidade”, defende Alexandre Prado, gerente da ONG Conservação Internacional.

R$ 5 bi é o volume de créditos do Itaú sujeitos aos Princípios do Equador