Um estudioso alemão distante dos assuntos familiares? Nada disso. Centenas de cartas enviadas à família por Albert Einstein (1879-1955), pai da Teoria da Relatividade e um dos maiores gênios da história, lançaram mais luz sobre a vida particular do cientista de origem judaica. E iluminaram, em especial, os seus casos extraconjugais. O material tinha sido doado à Universidade Hebraica de Jerusalém pela enteada Margot, de seu segundo casamento, com Else, uma prima. A condição era a de que elas só fossem trazidas a público pelo menos 20 anos após a morte de Margot. Há poucos dias deu-se a abertura do pacote. São 3,5 mil páginas de correspondências trocadas entre ele, suas duas mulheres e filhas entre 1912 e 1955. A quarentena foi cumprida sem folgas, já que Margot morreu em julho de 1986.

Tamanha genialidade não o livrou de ser um mulherengo egoísta, envolvido num casamento infeliz e insustentável com sua primeira mulher, a matemática sérvia Mileva Marie, que, de acordo com o livro Einstein apaixonado, teria participado da elaboração da Teoria da Relatividade. Em suas viagens, as mulheres “o incomodavam com excesso de atenção indesejada”. Numa carta de 1931 a Margot, ele se queixa de uma de suas conquistas, a socialite berlinense Ethel Michanowski. “A senhora M. me seguiu até a Inglaterra. Sua perseguição está fugindo do controle. De todas as damas, estou na verdade apegado apenas à senhora L, que é absolutamente inofensiva e decente.” A identidade de L. não é revelada nas cartas. Em outra correspondência à enteada, ele pede que ela repasse uma “cartinha” a Margarita, a “amante espiã russa”, para “evitar prover ouvidos curiosos com fuxicos”. Else também recebeu informações sinceras a respeito de sra. M., numa ocasião em que ela acompanhou o gênio dos cabelos revoltos numa viagem. “Ela agiu de acordo com a ética cristã-judaica. Veio comigo e não contou a você. Não é irrepreensível?” Até Marilyn Monroe, dizem, teria sido enfeitiçada por seu charme. Algumas cartas divulgadas anteriomente davam a entender que o cientista era muito infeliz na primeira união, com Milena, com quem se casou em 1903. Não faltam mulheres no novo volume de cartas. Algumas amantes são identificadas como Estella, Ethel, Toni e Margarida. Outras recebem apenas iniciais, como L. Num cartão enviado a Else em 1921, ele mostra cansaço em relação às próprias descobertas. “Daqui a pouco estarei farto da relatividade. Mesmo algo assim perde a graça quando se está muito envolvido.”

Em outra carta, mostra pouca habilidade para lidar com dinheiro. Deixou de transferir para a Suíça o que ganhou com o Prêmio Nobel, apesar das insistentes orientações da primeira mulher para que tirasse o prêmio dos Estados Unidos, onde se estabeleceu ao fugir da Alemanha nazista. Resultado: perdeu quase tudo com a quebra da Bolsa no período da Grande Depressão. O charme só funcionava com as mulheres e a sensibilidade, com a física, como mostra a carta em que fala de seu filho Eduard. Achava difícil “aceitar a esquizofrenia” do rapaz e freqüentemente dizia que “talvez fosse melhor que ele jamais tivesse nascido”. Eduard não demorou muito para morrer. Um Albert Einstein sem dúvida bem diferente da figura que saiu do anonimato para mudar o rumo da física, tornar-se o primeiro cientista “pop” do meio acadêmico, envolver-se em questões sociais e políticas e sociais, ganhar o Nobel e depois ser nomeado “O Homem do Século XX” pela revista americana Time. De qualquer forma, essas cartas provam ser impossível manter donos de mentes brilhantes como a dele eternamente longe das lendas e das polêmicas.