Estive ontem na Casacor.

O evento chega à sua 35ª edição e arrisco dizer que chega a  seu apogeu.

O evento, uma das maiores mostras de decoração das Américas, voltou a ter formato itinerante e conforme propósito de outrora,  trazer luz a diferentes regiões e edificações paulistanas.

Este ano escolheu a mais paulistana de todas as “casas”; o Conjunto Nacional, arquitetura de David Libeskind e construído em 1955.

Conjunto Nacional
Conjunto Nacional (Crédito:Reprodução)

Como pregava a boa arquitetura moderna o edifício mescla usos residenciais, comerciais e de entretenimento; e encontra-se sobre pilotis, pelos quais passam mais de 30.000 pessoas por dia.

Todo paulistano que se preze, tem uma relação afetiva com o Conjunto Nacional.

Na verdade, suas esquinas são tão emblemáticas e presentes na vida dos paulistanos, como a famosa Esquina das Avenidas Ipiranga e São João. (valeria inclusive uma nova homenagem a “Sampa” pelo mestre Caetano Veloso, narrando o edifício e o quadrilátero no qual é inserido:  “abraçado” pela Avenida Paulista x Rua Augusta x Alameda Santos x Rua Padre João Manuel)

Só pelo fato do evento ser ali, já é por si só, uma homenagem que a CasaCor presta a São Paulo

Porém há mais do que isso!

Seguindo a linha guia traçada pela curadora da Mostra, Lívia Pedreira, que definiu como tema o “Infinito Particular”, encontramos por lá espaços que traduzem a casa como um “ninho”. Espaços que até parecem que o morador acabou de sair e deixou a porta aberta para nos receber.

Projetos enaltecendo as obras de arte, trazendo manifestos, além de uma conexão fluída interligando os espaços, que por sua vez (em sua grande maioria) procuraram respeitar a “história” desse marco da arquitetura moderna paulistana.

Um belo (e necessário) diálogo da arquitetura com o design de interiores

Abaixo, elenco, dentre outros,  os 7 pontos que fazem a visita à Casacor, um programa obrigatório:

  1. Conhecer por dentro esse edifício símbolo da arquitetura paulistana, se surpreender ao deparar com a maravilhosa vista da Avenida Paulista que passa por uma verdadeira metamorfose, durante os diferentes horários do dia.
  2. Você acha que deve ir a Casacor apenas se estiver buscando referências para o decór de sua casa? Também, mas não só isso! Trata-se de um espaço de convívio e experiências onde é possível comprar um livro, um objeto de decoração incrível, tomar um drink no horário do Happy-Hour ou jantar em um dos diversos restaurantes.
  3. Está precisando de objetos de decoração brasileiros e descolados para a sua casa? Vá visitar o incrível projeto para a loja Hybrida assinado pelo arquiteto Samuel Ângelo. Um espaço que conta muito, com pouco, cheio de identidade e elementos naturais e essenciais. Os objetos, oriundos de um garimpo para lá de especial, trazem uma estética ética, com utilização de produtos feitos por artesãos brasileiros, cheio de memórias afetiva, roupas descoladas produzidas a partir de matéria prima orgânica; e difusores e sabonetes com aromas especiais na qual até o impacto logístico é estudado (suas entregas são feitas com bicicleta).

    Hybrida, por Samuel Ângelo
    Hybrida, por Samuel Ângelo (Crédito:Divulgação Casacor)
  4. Mais que um projeto, um manifesto. Este é o espaço Praça Terra Madre, assinado por Quintino Facci, um jovem arquiteto revelado na Casacor Ribeirão Preto 2021. O espaço tem obras de arte nada óbvias e de tirar o fôlego, como as grandes vegetações secas flutuando, e seivas escorrendo; além de ter valorizado as grandes pilastras originais do Conjunto Nacional, devidamente tratados e iluminados.

    Casa Madre, por Quintino Facci
    Casa Madre, por Quintino Facci (Crédito:Divulgação Casacor)
  5. Um Happy Hour especial olhando a Avenida Paulista? Que tal um drink no tradicional Bar Caracol (bem conhecido pela boemia paulistana, com sua sede na Rua Jaguaribe) O espaço na Casacor é assinado pelo arquiteto Pedro Luiz de Marqui. O projeto destaca-se pelo respeito à arquitetura original do edifício, gerando um lindo diálogo entre a nova intervenção e o “esqueleto” do antigo edifício.

    Caracol, por Pedro Luiz de Marchi
    Caracol, por Pedro Luiz de Marchi (Crédito:Divulgação Casacor)

O ponto central, é o grande painel de 22 metros de extensão, feito por Lavi Kosongo, artista plástico congolês da ONG Estou Refugiado, no qual trabalha juntamente a fotógrafa afegã Masouma Yavari.

  1. Quer ter um jantar sensorial, ladeando a Avenida Paulista? Vale a visita no restaurante MYK assinado pelo arquiteto Ricardo Abreu, que ocupa o primeiro local onde outrora se instalou o Restaurante Fasano (nos anos 70/80). Uma poesia o projeto, que procura filosofar sobre a ação do tempo e seus efeitos. No decorrer do grande salão branco, mesas e forros orgânicos dialogam, entre si, gerando agradáveis ilhas sensoriais.

    MYK, por Ricardo Abreu
    MYK, por Ricardo Abreu (Crédito:Divulgação Casacor)
  2. A Oficina de um dos mais talentosos artistas ceramistas do Brasil, o saudoso Francisco Brennand, está presente. No espaço, além de alguns painéis do artista, obras produzidas pelos artesãos da oficina, formados por Brennand. A Oficina, têm como discurso a perpetuação do trabalho do mestre, agora dando oportunidade para aqueles que colaboraram produzindo peças para o artista. O espaço foi elegantemente, com o mínimo possível de interferência, assinado pelo escritório paulistano da METRO arquitetura.

    Oficina Brennand, por Metro Arquitetura
    Oficina Brennand, por Metro Arquitetura (Crédito:Divulgação Casacor)

Este que vos escreve tem um humilde espaço na Mostra, um convite à Reflexão do Tempo. No entanto, me abstenho de escrever sobre  a fim de manter a Institucionalidade necessária da presente coluna. Mas estejam convidados a sentir este espaço e responder à questão que ali coloco: O que pensa em fazer com o tempo que te resta?