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Esqueça por alguns momentos o modo de pensar ocidental. E deixe a mente fluir, criando imagens e vasculhando boas lembranças. Esse é o eixo central da Mobilização do Qi Mental, uma técnica desenvolvida no Brasil – inspirada em conceitos orientais de saúde – que vem fazendo barulho no tratamento da obesidade. Tudo começou há cerca de cinco anos, quando o médico e acupunturista Isao Yamamura, chefe do setor de Medicina Chinesa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), uniu conceitos orientais e ocidentais, lançou mão da física quântica, adaptou o Tao yin (técnica que conjuga alongamento, meditação e exercícios de respiração) e lançou a novidade. Atualmente, o método faz parte do arsenal de recursos do Ambulatório de Medicina Chinesa do Hospital São Paulo, onde já foram tratadas centenas de pessoas e há fila de espera para entrar nos grupos. Além de ser usado como recurso para ajudar a emagrecer, o método é aplicado no tratamento e prevenção de outras doenças que, acreditam os especialistas, têm forte vínculo com as emoções, como o vitiligo.

Quem aprendeu a usar o método, como o homeopata e acupunturista João Yokoda, garante que a vida mudou. Ele pesava mais de 100 quilos e não conseguia perder peso. Decidiu experimentar a técnica depois de assistir a algumas aulas ministradas a médicos por Yamamura. “Apliquei os ensinamentos e finalmente emagreci”, diz Yokoda. Perdeu tanto peso que, meses depois, nem mesmo o professor o reconheceu. Convencido, passou a tratar pacientes de obesidade com a técnica. Pelo seu consultório, já passaram mais de 800 ex-gordinhos.

Para entender o Qi Mental, é preciso enxergar o organismo de uma maneira diferente. Se do ponto de vista ocidental o médico cuida do corpo e o psicólogo da mente, para os chineses corpo e mente são uma estrutura única e inseparável. Para eles, todas as doenças têm origem emocional. Elas seriam consequência de sentimentos negativos, como raiva, ansiedade e medo. Eles deixariam uma carga negativa estagnada no organismo, que com o tempo pode se transformar em enfermidades. Segundo a teoria chinesa, antes de atingir os tecidos, essas energias ficam registradas no subconsciente, parte da mente que registra, como um chip de computador, memórias ancestrais e os comandos para a sobrevivência (desde funções como respirar até reações diante do perigo).

É justamente aí que o Qi Mental interfere. A idéia é fazer o interessado em perder peso revisar certos registros gravados no subconsciente e mudar a energia. Qi, em mandarim – um dos idiomas chineses –, significa energia. Na prática, o tratamento consiste em ensinar o paciente a acessar o subconsciente. “A linguagem ideal para se comunicar com essa parte da mente são imagens e sensações”, diz Yamamura. Ao longo do processo de treinamento dos pensamentos, além dos diálogos com o terapeuta, há sessões de acupuntura, relaxamento e uso da programação neurolinguística. O paciente aprende a entrar em um estado de relaxamento profundo, no qual mentaliza o corpo ideal e a gordura excedente saindo de seu corpo. “Fazemos o doente compreender, imaginar e repetir essas imagens para fixá-las. É como reeducar a mente”, garante o médico Yokoda.

Negativa – A palavra também tem importância especial. A pediatra e acupunturista Márcia Lika Yamamura, também especialista no método, diz
que se deve evitar o uso de certos
termos para não haver ruídos na comunicação. “Deve-se trocar a expressão perder peso por eliminar gordura. O subconsciente entende que tudo o que é perdido deve ser reencontrado. Além disso, não entende
a palavra não nem números”, explica.

Um aspecto tentador do Qi Mental é que não há restrição alimentar, mas é imprescindível comer todos os dias nos mesmos horários, sem grandes intervalos entre as refeições. E fazer exercícios físicos. “É para avisar a mente que, apesar da perda de peso, a pessoa está saudável”, diz Yokoda. “Nossa herança ancestral, baseada nas leis da sobrevivência, registrou o medo de morrer de fome e, por isso, o corpo passa a armazenar energia quando começa a perder gordura”, afirma Yokoda. Na explicação do médico, é por conta desse mecanismo que, numa dieta, muita gente elimina certa quantidade de calorias no começo e depois pára de emagrecer.

À luz da medicina chinesa, as explicações de Yamamura têm uma coerência incontestável. Mas a medicina ocidental tem lá suas dúvidas. De acordo com o médico Márcio Mancini, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, o método se parece um pouco com as técnicas para ajudar os pacientes a mudar de hábitos,
o que não é fácil. “Na verdade, isso parece um método complementar. No
entanto, o que pode resolver a obesidade é entender que o distúrbio tem origem
em problemas orgânicos. Por isso, depende mais do sistema químico de cada organismo do que do controle mental”, rebate Mancini. O contraponto não surpreende. As relações entre a medicina tradicional chinesa e a medicina de Hipócrates são polêmicas. Mas, na hora de emagrecer, ambas concordam que
a firmeza de propósitos pode operar milagres.

Tao yin O método Tao yin consiste em um conjunto de exercícios físicos que conectam e equilibram mente e corpo e direcionam a atenção do indivíduo para si. Criada pelo tailandês Mantak Chia, a técnica mistura meditação, controle da respiração e alongamento. Na prática, é uma meditação em movimento, no qual a pessoa mantém a consciência e atinge um estado de relaxamento total. Os exercícios são simples, mas é necessário concentração, disciplina e persistência. Para saber mais, leia: TAO YIN, de Mantak Chia (Ed. Cultrix, 223 págs.).