Há quase uma década no mundo da publicidade, em que criadores costumam aparecer tanto ou mais que os produtos que anunciam, Marcos Valério Fernandes de Souza é uma exceção. Aos 43 anos, ele só despontou na mídia depois que o deputado Roberto Jefferson o apontou como o “pombo-correio” do mensalão. Nascido na cidade de Curvelo, parece ter introjetado de forma obsessiva a folclórica discrição dos mineiros. Suas fotos são raras e, quando aparece em público, é sempre na sombra. Presença rara nas empresas em que é acionista, evita aparecer até nos registros oficiais, como os da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais. Para isso, conta com uma equipe que coloca à sua disposição o próprio CPF.

Uma dessas prestimosas auxiliares é a secretária Adriana Fantini Boato, de sua inteira confiança. Há 11 anos na SMP&B, uma das agências de publicidade em que ele é acionista, Adriana emprestou seu nome para Marcos Valério abrir pelo menos uma empresa: a 2S Participações. “Isso é bobagem”, disse a ISTOÉ ao ser questionada sobre a transação. “É coisa de contador.” Embora more em bairro de classe média na capital mineira, por onde circula só em um Palio LX 2001 cinza, Adriana tem outros automóveis registrados em seu nome no Detran. Um deles é uma Mitsubishi Pajero 2004, além de um Palio EX 1999 e uma moto importada KTM 2005. Ela, no entanto, não reconhece a pequena frota como sua. Outro que ajuda a evitar a exposição de Marcos Valério é o chefe dos office-boys da SMP&B, Orlando Martins, que, alçado a “empresário”, também tem nome usado na abertura da empresa. Procurado pela reportagem, ele não foi encontrado, mas pessoas de sua convivência relataram que está à beira de um ataque de nervos desde que o nome do patrão virou sinônimo de escândalo. Registrada em 22 de julho de 2002, a 2S tem como objetivo a “participação como cotistas ou acionistas de outras sociedades”. Dois meses depois de criada, ela foi transferida para Marcos Valério e sua mulher, a pedagoga Renilda Maria. O casal não fala. Sua assessoria explica que, no caso da 2S Participações, tratou-se de uma saída estratégica, pois, à época, Marcos Valério não poderia abrir novos negócios devido a problemas fiscais.

O publicitário prefere mesmo a meia-luz. À primeira vista, seu nome não aparece nem nas duas grandes agências de publicidade que o assumem como sócio, a DNA Propaganda e a SMP&B. Pelas declarações oficiais da DNA, a participação dele se dá através da Graffitti Participações Ltda., mas, de acordo com a Junta Comercial, ele não está entre os sócios da empresa. A sociedade é entre sua mulher Renilda Maria e Ramon Hollerbach Cardoso. No que diz respeito à SMP&B, a situação é similar, soma-se aos dois o fundador da agência, Cristiano Paz.

Engenheiro mecânico por formação, entrou para o ramo publicitário por obra do acaso. Depois de atuar na área financeira e empresarial, em 1996 ele vislumbrou um grande negócio na antiga SMP&B, que estava quebrada. Com pequena participação, associou-se à empresa, arregimentando outro sócio com grande capacidade de investimento, Clésio Andrade, empresário do setor de transportes. Dois anos depois, Clésio, hoje vice-governador de Minas, resolveu entrar na política e transferiu sua participação aos sócios.

De lá para cá, Marcos Valério nadou de braçada num mercado em que apenas o governo e as estatais movimentam R$ 1,3 bilhão de verbas por ano. Uma de suas agências, a DNA, foi a empresa publicitária que mais cresceu em 2004, deixando para trás os titãs Nizan Guanaes e Duda Mendonça. Não é para menos. Ela tem as contas do Banco do Brasil, da Eletronorte e do Ministério do Trabalho. Sua outra empresa também abocanhou um belo quinhão nos Correios e no Ministério do Esporte. Seria tudo perfeito se essas conquistas fossem resultado de sua criatividade. No mercado publicitário, porém, ninguém jamais viu Marcos Valério criar um slogan. Em contrapartida, cada vez surgem mais evidências de suas relações perigosas com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de quem se aproximou no começo da última campanha presidencial, oferecendo seus préstimos como arrecadador de recursos. Por essas e outras, Marcos Valério será um dos alvos preferenciais dos holofotes e da CPI recém-criada no Congresso Nacional.