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CROCODILO Luiz Lucca já simulou o choro em diversas situações

Quando a garganta trava e os olhos ficam umedecidos, muitos engolem o choro ou enxugam as lágrimas discreta e rapidamente, para evitar a exposição pública. Aprendemos desde cedo que chorar é sinal de fraqueza, imaturidade e despreparo para lidar com a realidade. Mas os efeitos sociais do choro nem sempre são negativos. A pesquisa "Trust in a teardrop" (‘Confie numa gota de lágrima’), desenvolvida pela Universidade de Tel Aviv, revela que ele reforça vínculos interpessoais, funciona como um pedido de ajuda e pode amansar um inimigo. "É uma forma de obter a misericórdia do antagonista, conquistar a simpatia dos demais e criar intimidade", diz o psicólogo Oren Hasson, autor do estudo. O assistente judiciário Felipe Bullara, 28 anos, conhecido como ‘aquele que chora por tudo’, construiu relações sólidas a partir da sensibilidade declarada. É visto como o amigo que se envolve com os problemas dos outros, o filho e irmão atuante na dinâmica familiar e o namorado sensível. "As pessoas se abrem comigo", diz. "Sabem que sou verdadeiro."

A confiança social é construída a partir de uma premissa básica. Quem chora é capaz de elaborar conflitos internos, portanto, é visto como alguém que sabe se colocar no lugar dos demais. "Quando nos projetamos nos conflitos dos outros, nos tornamos mais sensíveis aos dramas humanos e mais confiáveis", afirma a psicóloga Dorli Kamkhagi, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Mas onde chorar pega mal? Lágrimas no ambiente de trabalho são unanimidade negativa. "Nessa situação, pode parecer manipulador. Sugere que a pessoa está fazendo drama", afirma a consultora de RH Bábara Demange, da D.A Consulting. Diante de pessoas de outras culturas também pode ser mal interpretado.

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OPOSTOS Patricia não consegue verter uma lágrima. Já Felipe chora por qualquer motivo

"Os latinos têm mais facilidade de expressar sentimentos", diz Bárbara. "Já entre os europeus, o choro é familiar, íntimo. Não se emociona na frente de estranhos."

Na cultura brasileira, o choro é mais do que um símbolo social de vínculo e confiança – a falta dele projeta a imagem de frieza e desapego. O ato valida emoções comuns a um grupo e comunica um sentimento coletivo. "As lágrimas podem significar um sinal de apaziguamento e da necessidade de união em momentos de dor", afirma Hasson, autor do estudo. Em situações de luto, são quase obrigatórias – funcionam como termômetro para confirmar o sofrimento. O critério pode ser injusto com aqueles que não choram nunca. É o caso da empresária Patricia Strebinger, 40 anos. "Nem me lembro da última vez que chorei", diz. Ela é vista com ressalvas pelos familiares quando visita um parente internado no hospital ou vai a um enterro. "As pessoas pensam que não sofro."

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O choro já foi o objeto de outros trabalhos. A pesquisa "The psychology of crying" (A psicologia do choro), divulgada em dezembro de 2008 pelas Universidades do Sul da Flórida e de Tilburg (Holanda), revela que 70% dos três mil entrevistados constataram benefícios psicológicos e melhorias no humor após se debulharem em lágrimas. Aqueles que receberam suporte emocional durante a crise, se sentiram ainda mais aliviados. O estudo também analisou artigos científicos dos últimos 140 anos sobre o tema e concluiu que 94% deles defendem os benefícios das lágrimas e os riscos da supressão. Quem chora pede por ajuda, reconhece uma dor e quer mudar a sua condição.

"O choro é um compromisso com a vida", afirma o psicólogo Jeffrey Kottler, autor de ‘A Linguagem das Lágrimas’ (Ed. Makron Books), um dos maiores tratados sobre o assunto.

 

Lágrimas pela História

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