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ÍCONE
O ex-presidente da Enron, Jeffrey Skilling,
é retratado como o vilão do século XXI

A história da maior maracutaia corporativa dos Estados Unidos desembarcou na Broadway. Desde a terça-feira 27, está em cartaz em um dos principais teatros da mais famosa avenida da indústria do entretenimento mundial o musical que retrata a ascensão e derrocada da Enron, a companhia de energia americana que protagonizou um arrasador escândalo empresarial num país acostumado a cultuar como heróis seus empreendedores e executivos de grandes empresas. Dinossauros predadores dançam em meio a uma infinidade de efeitos cênicos para contar o caso do golpe perpetrado pelos executivos da empresa para maquiar balanços e assim continuar a receber polpudos bônus. Mas a montagem americana da peça está sendo vista como uma aposta tão arriscada quanto a fracassada engenharia financeira que acabou levando a Enron à lona em 2001. Com orçamento inicial recorde de US$ 4 milhões, muitos críticos teatrais estão temendo que o musical pode ter o mesmo destino da corporação que retrata: a falência.

O personagem principal da peça, montada por uma companhia inglesa e sucesso estrondoso em Londres no ano passado, é o antigo presidente da Enron, Jeffrey Skilling, que hoje cumpre pena de 24 anos em uma cadeia comum no Estado do Colorado. Skilling estava no centro da ciranda financeira fraudulenta que envolveu bancos, advogados e a empresa de contabilidade Arthur Andersen, na época uma das cinco maiores do mundo e que após o escândalo vir à tona também foi à falência. Com o apoio de uma ampla rede de cúmplices, Skilling e os principais executivos da Enron conseguiram esconder prejuízos de US$ 25 bilhões e inflaram o faturamento da companhia. Em 2000, um ano antes de quebrar, a Enron registrou um faturamento de mais de US$ 100 bilhões.

O escândalo tornou-se emblema clássico de uma geração que não respeitou nenhum limite para atingir o sucesso financeiro. Se o investidor Gordon Gekko, vivido por Michael Douglas no filme “Wall Street”, foi o símbolo da cobiça e da amoralidade financeira nos anos 80, Skilling e a Enron tornaram-se os ícones dos mesmos pecados, desta vez protagonizados com o apoio e a estrutura de grandes corporações. O que parecia ser o fim de uma era, como se veria poucos anos depois, era, na verdade, o início de uma onda de escândalos corporativos que acabaram levando toda a economia americana – e a mundial, por consequência – à maior crise financeira desde a quebra da bolsa de Nova York em 1929. Para os americanos, foi como se milhares de Gordons Gekkos abandonassem a solitária vida de investidores para se tornarem executivos de grandes companhias.

É nesse ponto que reside o ceticismo dos especialistas em montagens milionárias da Broadway a respeito do sucesso de público, e consequentemente financeiro, do musical “Enron”. No fundo tratase da história sem muitos rodeios dos barbarismos cometidos em nome do grande sonho americano de fazer fortuna. E, para piorar, ela é contada por ingleses, gente que, de uma forma ou de outra, sempre contestou os métodos pouco ortodoxos do estilo americano de alcançar o sucesso. Na primeira semana do espetáculo já apareceram críticos afirmando que a montagem inglesa está repleta de símbolos anti-americanos. “Estamos confiantes no sucesso do musical e todos os números serão auditados para que não pairem dúvidas sobre ele. E posso garantir que os auditores não serão da Arthur Andersen”, diz o produtor Jeffrey Richards, com o tradicional humor inglês às vezes difícil de ser compreendido pelos americanos.

SOTAQUE LOCAL
 

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MONEY , MONEY
Tudo no musical “Enron” gira em torno da ganância
sem limites para ganhar cada vez mais dinheiro
 

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Para reduzir as críticas de ser uma produção estrangeira contando uma história americana, a companhia inglesa responsável pela montagem do musical decidiu trocar os 22 atores ingleses por artistas dos Estados Unidos. Para o papel de Jeffrey Skilling foi escolhido Norbert Leo Butz, experiente ator da Broadway e vencedor do Tony, o maior prêmio da categoria