De Dilma Rousseff , já se sabia muita coisa. Do passado de luta contra a ditadura, da reinvenção do sistema elétrico brasileiro e da bem- sucedida experiência como “gerente” do governo Lula. Mas nem tudo foi dito. E ainda há passagens pouco conhecidas da vida da candidata. Em 1962, ela era Leda. Nesse papel, fez o primeiro nu frontal do cinema brasileiro, desfi lando pelas areias do Rio de Janeiro, no fi lme “Os Cafajestes”, de Ruy Guerra. Dois anos depois, Dilma quebrou mais um tabu. Foi Mara. E em Noite Vazia, a obra-prima de Walter Hugo Khoury, protagonizou uma inebriante cena de amor com Odete Lara.

Mas era mesmo Dilma aquela Afrodite morena que despertava paixões na década de 60? Mais ou menos. Na verdade, era a atriz Norma Bengell, uma de nossas divas. Assim como foi Norma, e não Dilma, quem participou da Passeata dos 100 Mil, contra a ditadura, numa foto usada no blog da candidata, entre duas imagens da ex-ministra. Norma, que hoje vive com os bens bloqueados, condenada que foi num processo por desvio de recursos da Lei Rouanet, já veio a público esclarecer que não viu mal algum no episódio – declarou até simpatia pela candidata. Mas o ponto central vai além da simples tentativa, voluntária ou não, de se criar certa confusão entre fatos reais e fi ctícios na vida da ex-ministra. Por que será que Dilma, às vésperas da eleição, ainda segue em busca de um personagem? Ou, dito de outra maneira, por que não se contenta em ser ela própria?

Antes da campanha, Dilma se submeteu a várias intervenções estéticas. Fez plásticas e mudou o penteado – o que é louvável, pois toda mulher tem direito à vaidade. Mas há palpiteiros demais gravitando ao redor da candidata. Uns dizem que ela deve ser espontânea como Lula – e na primeira tentativa, ao falar para caminhoneiros, Dilma disse que o Brasil, na era FHC, seguia uma política de “roda presa”. Agora, há quem pregue que Dilma siga o exemplo da chilena Michelle Bachelet, adotando um fi gurino mais suave. Não será surpresa se, nos próximos dias, ela aparecer ao lado da mãe de 90 anos ou no exame de ultrassom da fi lha, que está grávida.

Dilma chegará em outubro com o País numa situação de quase pleno emprego, que ela ajudou a construir. Do passado, não há do que se envergonhar. O que falta à candidata, para emparelhar a disputa, é conquistar a confi ança do eleitorado feminino, no qual a distância para José Serra é maior. Nessa tarefa, ela só terá sucesso se for autêntica, e não um fantoche. Ou seja: sua missão é transmitir verdade, algo que Norma Bengell fazia muito bem no cinema. Tão bem que já causava furor em futuros petistas – um deles, Celso Amorim, assistente do set de fi lmagem de “Os Cafajestes”.