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VISÃO
Luisa ficou com os olhos ardendo
após sessão de “Avatar”

Nas telonas o 3D já mostrou agradar ao público. Basta ver os números de “Alice no País das Maravilhas”: quase metade dos 875 mil espectadores brasileiros que assistiram ao filme no fim de semana de estreia optou pelas salas com projeção tridimensional. Mas a novidade para este mês não é um lançamento cinematográfico, e sim a venda dos primeiros televisores 3D. O produto aporta com a promessa de ser a grande inovação tecnológica para a Copa do Mundo. Porém, a notícia traz preocupações. No Exterior, onde as tevês 3D já são comercializadas, os fabricantes têm informado sobre possíveis riscos à saúde. O primeiro alerta foi da Samsung. As recomendações lembram as das bulas dos remédios: orientam a interromper o uso caso se sinta desconforto, como dor de cabeça, e informam sobre a possiblidade da ocorrência de crises epilépticas.

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ESFORÇO EXTRA
Para processar as imagens da tevê
em 3D, o cérebro trabalha mais

Mas, afinal, quais os impactos do 3D na saúde? Geralmente, os incômodos relatados são reflexo do esforço que o cérebro faz para formar a imagem tridimensional projetada. O ser humano enxerga naturalmente em três dimensões, porém, em filmes, videogames ou televisores em 3D, o cérebro tem de trabalhar mais: são enviadas imagens diferentes para cada um dos olhos e o órgão é obrigado a sobrepô-las para gerar a sensação de profundidade que faz com que os objetos “saiam da tela”. “A concentração cerebral aumentada, por um período prolongado, pode resultar em dor de cabeça, náusea e tontura”, explicou à ISTOÉ o pesquisador Michel Rosenberg, da Northwestern University, nos EUA. Pesquisas calculam que entre 5% e 10% da população tenha reações adversas.

A comunicadora visual Izilda Simões, de São Paulo, é uma delas. Após assistir a “Alice”, ela sentiu uma “certa sensação de flutuação”. “É como se estivesse em alto-mar”, descreve. Esse mal-estar é mais comum em pessoas que têm o labirinto – estrutura envolvida no equilíbrio – mais sensível. “Por isso, em quem possui labirintite, as reações são mais fortes”, explica Fernando Ganança, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Mateus, filho de Izilda, não sente nada.

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O empenho gera incômodos, como
a tontura sentida por Izilda. Mateus não sente nada

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Outra queixa frequente é como a feita por Luisa Daud, de São Paulo. Durante as quase três horas do filme “Avatar”, ela tirou os óculos quatro vezes ao sentir os olhos ardendo. Após a sessão, percebeu que a visão estava um pouco embaçada. Embora os sintomas possam estar relacionados a algum problema oftalmológico não diagnosticado, o mais comum é ser apenas o chamado “olho seco”, que ocorre quando a pessoa passa muito tempo mantendo o foco da visão em um mesmo ponto e sem piscar. O resultado é uma má lubrificação do globo ocular, gerando os incômodos descritos pela garota. “Mas não é nada irreversível”, garante o oftalmologista Rubens Belfort Neto, da Unifesp.

A verdade, no entanto, é que só agora começam a ser feitas as pesquisas mensurando os impactos do 3D sobre a saúde. Portanto, é preciso cautela, principalmente com as crianças. “Os estímulos são sentidos com mais força pelo cérebro infantil”, afirma a neurologista Célia Roesler, integrante da Academia Brasileira de Neurologia. “A inquietação da criança durante a noite após uma sessão de 3D é sintoma de distúrbio do sono causado pelo esforço que o cérebro foi obrigado a fazer.” A solução, aponta a especialista, é esperar os filhos ficarem mais crescidinhos para experimentar a tecnologia. Afinal, se os próprios fabricantes dos televisores estão alertando sobre os efeitos colaterais, o melhor é assistir em 3D com moderação. 

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