O pão virou o novo vilão da inflação. O seu preço está subindo quase diariamente. As panificadoras põem a culpa na farinha de trigo, e os moinhos de trigo, por sua vez, acusam os argentinos. O trigo fechou 2007 no patamar de R$ 710 a tonelada. O maior produtor brasileiro de farinha, Jorge “Gito” Chammas, dono do Moinho São Jorge, tem liderado os industriais numa cruzada junto ao governo para tentar resolver o problema.

ISTOÉ – Por que o pão e o macarrão puxam a inflação?
Chammas –
Porque falta oferta de trigo por causa de uma crise na Argentina. O trigo está inflacionando lá. Saiu de US$ 180 para US$ 320 a tonelada. E o frete para São Paulo subiu de US$ 17 para US$ 50 a tonelada. Metade do trigo consumido no Brasil é importado, 80% da Argentina.

ISTOÉ – E que tal importar de outros lugares?
Chammas –
O governo coíbe com taxas absurdas. Esse governo só pensa em Mercosul. Fui reclamar no Ministério do Desenvolvimento, mas disseram que no curto prazo não podem fazer nada por causa do Itamaraty.

ISTOÉ – Onde entra a Argentina?
Chammas –
Os moinhos nacionais estão sendo vítimas da política de dumping dos argentinos. O governo de Néstor Kirchner criou alíquotas de exportação diferenciadas para prejudicar os brasileiros. Eles pagam 28% para exportar o trigo, 10% para a farinha e apenas 5% na pré-mistura do pão e macarrão. Isso é subsídio camuflado. O efeito é que a farinha chega ao Brasil 30% abaixo do custo dos moinhos nacionais.