Latitudes: mestres latino-americanos na coleção FEMSA / Instituto Tomie Ohtake, SP/ de 12/2 a 5/4

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REGIONAL Mujer dormida, de David Alfaro Siqueiros, também autor de manifestos

Formar uma coleção de arte latino-americana talvez seja uma tarefa tão complexa quanto promover a integração geopolítica, econômica e ideológica sul-americana (e exercitar a mediação em casos de conflito na região, papel que tantas vezes cabe ao presidente Lula). Toda grande coleção de arte latino-americana depara-se com o mesmo dilema: contemplar a pluralidade do continente. O desafio é evidente nesta exposição de 41 obras da Coleção Femsa, metade das quais realizada por artistas mexicanos ou residentes no México. A mostra é um pequeno recorte da coleção de mais de mil obras que o conglomerado empresarial mexicano acumula desde 1977.

O cubismo, o surrealismo, a abstração geométrica e informal são algumas das correntes estéticas europeias que foram absorvidas, deglutidas e interpretadas à moda local por artistas mexicanos, argentinos, cubanos, chilenos, colombianos, brasileiros, etc. O Chile está representado por Roberto Matta, Cuba por Wifredo Lam, Uruguai por Torres García, Venezuela por Jesús Soto, Colômbia por Fernando Botero. Segundo o crítico mexicano Luiz-Martin Lozano, em texto do catálogo, a busca de identidades locais é "talvez uma das características que mais coincidem nos processos históricos das diferentes nações americanas".

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INDíGENA O muralista José Clemente Orozco faz crítica ao eurocentrismo
 

Mas, na exposição, são mexicanas as obras que melhor representam esse desejo de alcançar uma expressão independente dos modernismos vigentes.

Diante de belíssimas pinturas de Frida Kahlo, Cordelia Urueta, Alfredo Ramos Martinez, David Alfaro Siqueiros e José Clemente Orozco, surpreende a ausência da antropofagia brasileira, que se inicia em 1928 nas pinturas de Tarsila do Amaral e no manifesto de Oswald de Andrade, ressaltando os contrastes entre as culturas ameríndia e afro-brasileira e a herança europeia. Outras lacunas marcantes são o neoconstrutivismo brasileiro e a arte concreta argentina. A seleção brasileira da Coleção Femsa recai sobre a pintura de viés expressionista de Iberê Camargo e o abstracionismo de Arcangelo Ianelli. Apesar das inevitáveis ausências, a exposição é um bom convite para repensar nossas noções de vizinhança.

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UNIVERSAL Influência do surrealismo na obra de Frida Kahlo

 

Percepções da luz ambiente

 

Transparencies – AVPD/ Galeria Leme, SP/ até 28/2

No filme Matrix, ao entrar e sair de portas, os personagens ultrapassam as barreiras do tempo e do espaço. Num edifício revestido de espelhos, um arquiteto ultrapassa a solidez da matéria para criar algo mutável, ainda que apenas visualmente. Ficção científica e arquitetura são inspirações para a dupla dinamarquesa AVPD (iniciais de Aslak Vibæk e Peter Dossing).

"Somos animais espaciais, volumes interagindo com o espaço. Mas, no dia-a-dia, esquecemos disso. Nosso trabalho busca rever essa relação com o espaço", diz Dossing. "Ao recriar realidades que nos permitam experimentar maneiras de interferir no espaço – e pensar como ele pode interferir em nossas escolhas e movimentos -, tentamos provocar um diálogo entre o ser humano e o que o cerca", completa Vibæk.

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Trabalhando juntos há 11 anos, os dois artistas selecionaram para a primeira exposição na América Latina obras que proporcionam experiências visuais dos efeitos da luz. Mesmo que não tenham sido feitas especificamente para o espaço da Galeria Leme, em São Paulo, elas dialogam e se modificam em função dele. Em Monochrome volumes (foto), por exemplo, a luz ambiente modifica a cor de quatro caixas inicialmente iguais. No interior delas, telas brancas posicionadas em profundidades diferentes dão aos acrílicos das superfícies quatro tonalidades diversas, que vão do branco ao cinza. Como todas as obras dependem da absorção de luz, a exposição se altera em função da claridade e do horário em que é visitada.