Em 1998, quando o caçula de seus cinco filhos foi parar na Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem), de São Paulo, a baiana Conceição Paganese descobriu que, além da dor de vê-lo envolvido com roubo e drogas, sofreria grandes humilhações. O desconhecimento das leis, a angústia de não saber se o filho estava vivo ou morto depois de uma rebelião, tudo era complicado. “É difícil a sociedade pensar em direitos quando se trata de infratores. Somos apenas a mãe do ladrão”, diz. Para evitar que outras mães passassem pelos mesmos percalços, Conceição criou a Associação de Mães e Amigos de Adolescentes em Risco (Amar), que, além de fiscalizar o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), media as relações entre a Febem, os adolescentes e suas famílias e oferece apoio jurídico e psicológico. Também faz um trabalho preventivo em Cidade Tiradentes, na zona leste paulistana.

Sua atuação chamou a atenção da Ashoka, organização internacional, fundada
em 1980 pelo advogado americano William Drayton, que identifica e investe em empreendedores sociais inovadores em 52 países. Na segunda-feira 13,
Conceição e outras 11 pessoas, que como ela encontraram formas eficientes
de mudar a realidade, serão homenageadas na festa de 25 anos da organização, realizada em São Paulo.

No mundo há 1.500 empreendedores sociais, 240 deles brasileiros. “Chamados de fellows (companheiros), são escolhidos pela competência, criatividade, empreendedorismo e ética”, explica Vivianne Naigeborin, diretora internacional de parceiras da Ashoka. Eles recebem uma bolsa mensal (cerca de R$ 4 mil) durante três anos, para que se dediquem com exclusividade a suas idéias, além de cursos de capacitação realizados pelo Centro de Competência para Empreendedores Sociais Ashoka-McKinsey. A parceria com a empresa de consultoria de gestão empresarial possibilitou a criação do Prêmio Empreendedor Social Ashoka-McKinsey, que seleciona organizações e universitários para desenvolvimento de planos de negócios de impacto social.

No final do mês passado, foram divulgados os três ganhadores deste ano: Associação Lua Nova, de São Paulo, Ceaps-Projeto Saúde e Alegria, do Pará, e a Fundação Vitória Amazônica, do Amazonas. O prêmio consiste em apoio técnico e financeiro – R$ 45 mil para o primeiro colocado, R$ 30 mil para o segundo e R$ 15 mil para o terceiro. Raquel da Silva Barros, que preside a Associação Vila Nova, se destacou por apresentar o projeto Empreiteira-Escola, que ensina as jovens mães em situação de risco social que são atendidas pela organização a construir casas – objeto de desejo de todas.

Sem tristeza: Ashoka foi um líder do século III a.C. que unificou a Índia pelas
armas. Depois, dedicou-se a combater a pobreza. Ashoka em sanscrito quer
dizer “ausência ativa de tristeza”.