Desde que fundou na garagem de sua casa uma pequena empresa de computadores chamada Apple, em 1976, Steve Jobs se habituou a chacoalhar o mundo da tecnologia. Em uma conferência na segunda-feira 6, na sede da empresa, na Califórnia, ele anunciou que até 2007 os computadores que levam a marca da maçã sairão de fábrica de cérebro novo: com os processadores eletrônicos (chips) da americana Intel. É o fim de uma parceria de 14 anos com a IBM, cujos processadores PowerPC controlam todos os equipamentos da Apple, além dos consoles de videogame de nova geração.

A decisão é uma pequena revolução no histórico de Jobs, que também dirige a produtora de desenhos animados Pixar. “A Intel tem a melhor programação para novos chips”, disse Jobs. O casamento com a IBM, que foi firmado em 1991, já estava em crise porque a empresa não atendeu aos pedidos da Apple para ampliar a produção nem resolveu os problemas de consumo e superaquecimento.

Pirataria – A associação entre Apple e Intel tem dois desdobramentos. O primeiro é o barateamento dos computadores Macintosh. Apesar da qualidade e do design, eles detêm só 2% do mercado. O segundo é uma provável entrada da Apple no mercado de filmes digitais. A chave dessa questão está em uma simples palavra: lagrande. É por esse nome que a tecnologia de combate à pirataria a partir do hardware (parte física dos computadores) é conhecida nos corredores da Intel, onde é desenvolvida. Nessa tecnologia, a troca de filmes, músicas e games (vulgo pirataria) será bloqueada no próprio chip.

“Ainda não está definido como será feita a segurança do conteúdo protegido
por direitos autorais”, diz Elber Mazaro, diretor da Intel. Há várias possibilidades:
o chip pode conter um sistema de código exigido na hora da exibição; é possível
criar um sistema que impeça a cópia de conteúdo com direitos autorais; e também está sendo estudada a criação de um dispositivo que limite o número de vezes
que um filme é assistido.

Com a tecnologia Intel nos Mac, estaria pavimentado o caminho para a Apple promover uma revolução no mercado de filmes digitais, nos mesmos moldes com que o iPod transformou a música digital. O pequeno tocador de mp3 multiplicou por seis os lucros da empresa. A loja de música virtual iTunes (que só funciona com o iPod) já vendeu mais de 300 milhões de músicas, se tornando a única experiência bem-sucedida de venda legal de música na internet. A pirataria é a razão do temor com que a indústria de Hollywood ainda vê o mercado da internet.

Para os analistas, a experiência vitoriosa do iPod e do iTunes poderia ser a inspiração para uma possível revolução no comércio de filmes em formato
digital. Você resistiria em comprar um Mac para baixar o último lançamento de Hollywood, levar o pequeno computador para junto da televisão e refestelar-se no sofá com um belo balde de pipoca, em uma sessão de cinema digital e portátil? Steve Jobs aposta que não.