Pesquisadores nos Estados Unidos estão desenvolvendo um importante equipamento para ser usado em campos de guerra. Mas, ao contrário das sofisticadas armas de combate exibidas pelos soldados americanos em conflitos recentes, a função desta novidade é salvar vidas em vez de matar. Trata-se de um aparelho portátil de ultra-som para detectar e tratar hemorragias provocadas por ferimentos nos soldados ainda no campo de batalha. O atendimento mais rápido ajudará a reduzir o número de mortes e amputações.

O equipamento possui uma tecnologia que permite identificar se a lesão atingiu veias ou artérias. O mesmo aparelho também irá emitir um raio de ultra-som de grande intensidade na área atingida. A energia liberada aquece a área e estimula a produção da fibrina, uma proteína que contribui para o processo de cicatrização. Essa ação interromperia a hemorragia e promoveria o fechamento do ferimento. O recurso também ajudaria na formação de radicais livres, moléculas que aceleram ainda mais a coagulação. “O desafio agora é fazer com que isso possa ser operado por qualquer pessoa numa emergência”, afirma Lawrence Crum, professor da Universidade de Washington, nos EUA, um dos engenheiros que trabalham na pesquisa.

A expectativa é que o aparelho americano possa ser útil também nos serviços de emergência dos hospitais. Na verdade, essa não seria a primeira vez que uma tecnologia criada para atender a necessidades de guerra seria aproveitada em outros campos. O próprio aparelho de ultra-som ganhou versão portátil durante a guerra do Golfo, o que permitiu o atendimento dos soldados nos locais de ataques sem necessidade de remoção para instalações mais equipadas. “Hoje, ele é usado para diagnosticar problemas em pessoas com dificuldades de se locomover”, explica José Marcelo Amatuzzi de Oliveira, do setor de diagnóstico por imagem do Laboratório Fleury, de São Paulo. Retirar algo do aparato de guerra para ajudar a manter vidas não deixa de ser irônico. Mas, neste caso, a ironia é muito bem-vinda.