A senadora Heloísa Helena foi convencida pelo comando de sua campanha a abrandar o discurso para não assustar o eleitor de classe média na corrida à Presidência da República. “São recomendações muito afetuosas que temos feito a ela”, revela o deputado Chico Alencar, do Rio de Janeiro. “Temos que acertar o tom, mas sem perder a plumagem de guerreira”, afirma. A suavidade nos discursos de Heloísa Helena começou pelo Senado. Em maio do ano passado, ao falar sobre taxas de juros, a senadora pregava o calote da dívida externa. Na sexta-feira 7, ao abordar novamente os juros da dívida, ela defendeu uma auditoria e as mudanças nos contratos, dentro do que diz a legislação. E teve mais recados. Como eterna crítica da “grande mídia”, a senadora agradeceu o tratamento que tem recebido das emissoras de televisão na cobertura da campanha.

Até Jesus Cristo ganhou papel menos agressivo nos discursos de Heloísa Helena. Em junho de 2005, a senadora discorria um Jesus que entrava nos Três Poderes com chicote na mão para açoitar o “covil de ladrões” do Executivo e do Legislativo. No mesmo dia 7, Heloísa recorreu à imagem do Jesus traído, que tenta se afastar do amargo cálice da dor. O PSOL quer evitar comparações entre a nova imagem de Heloísa e o Lulinha Paz e Amor de 2002. “Não é a Heloísa paz e amor, é a Heloísa paz aos amigos e guerra aos inimigos”, diz Chico Alencar. Na quarta-feira
12, o novo estilo de Heloísa foi testado na plataforma da Rodoviária de Brasília. A senadora, que sempre foi conhecida por ser uma mulher meiga no tratamento fora dos tapetes azuis do Senado, aumentou a doçura. O camelô de CD pirata Paulo de Araújo recebeu afagos e ficou impressionado com a delicadeza dela: “Acho que vou votar nessa Heloísa Helena.” Todos na rodoviária esperavam um discurso em altos decibéis. Mas ao final da caminhada, a senadora não subiu no caminhão como previsto. Heloísa preferiu carregar nas mãos uma rosa vermelha, símbolo do socialismo.

Há uma expectativa no Congresso quanto ao visual a ser adotado no horário gratuito de tevê. Na caminhada, a camiseta branca foi substituída por uma camisa de mangas compridas com babado na gola. Enquanto desfilava entre bugigangas chinesas e relógios falsificados, Heloísa acalmava os ambulantes preocupados com os militantes que a seguiam: “Aqui não é o rapa!” O partido de Heloísa está colaborando para que ela adote uma imagem menos radical. No entanto, está mantida a orientação de não aceitar dinheiro de grandes empresas, para evitar promiscuidade. “A gente aceita dinheiro de empresário, desde que não seja de multinacional”, explica Martiniano Cavalcante, o tesoureiro. Longe da lógica capitalista, o PSOL tem aceitado doações a partir de 50 centavos. Para engordar o caixa, uma das principais formas de arrecadação, em Brasília, tem sido apelar para o estômago através de feijoadas e galinhadas.