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FÚRIA
O vulcão Eyjafjallajökull, na Islândia, entra em erupção

O impronunciável Eyjafjallajökull causou uma série de transtornos nos últimos dias. Por causa das cinzas expelidas pelo vulcão islandês, que entrou em erupção no dia 20 de março, grande parte do espaço aéreo europeu ficou fechada e as companhias aéreas amargaram um prejuízo estimado de US$ 1,7 bilhão. Além disso, cerca de 600 pessoas tiveram de ser removidas de suas casas, já cobertas de detritos, por questão de segurança. “O planeta é mesmo feroz”, resume Valdecir Janasi, professor do Instituto de Geociências da USP. Mas não resta dúvida de que os islandeses aprenderam a conviver com os humores da natureza com inteligência.

Ao mesmo tempo que pode ser um inconveniente manancial de problemas, a formação geológica da Islândia – também chamada de “terra de gelo e fogo” por seus habitantes – proporciona as condições ideais para que sua população seja abastecida por uma das fontes de energia mais limpas já dominadas pelo homem, a geotérmica. O país está localizado exatamente em cima da fronteira entre duas placas tectônicas (americana e eurasiática), que se afastam dois centímetros a cada ano. O choque constante faz com que mais de 200 vulcões permaneçam ativos no país. Mais de 30 erupções de grande porte, como a que ocorreu nos últimos dias, foram registradas desde 1918. O magma, a rocha líquida que corre pelas paredes das montanhas depois desses eventos, circula o tempo todo em seu subsolo. Basta escavar um quilômetro em direção ao centro da Terra para encontrar temperaturas de até 250°C.

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HARMONIA
Os fazendeiros islandeses aprendem a lidar
com os humores da natureza para sobreviver

Todo esse calor é usado para alimentar usinas elétricas, aquecer casas e garantir o abastecimento de água quente. “O vapor pode ser empregado de diversas formas, impulsionando turbinas e alimentando caldeiras”, explica o professor Antonio José Nardy, do Instituto de Geociências da Unesp. A energia é extraída por dutos subterrâneos, que captam o calor gerado pela circulação do magma. O princípio é o mesmo das usinas termoelétricas, só que não há a necessidade de queimar carvão, já que o calor vem do subsolo.

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Aproximadamente 80% da energia consumida na Islândia é renovável, sendo 80% desse total gerado por usinas geotérmicas e 20%, por hidrelétricas. A temperatura na capital do país, Reykjavik, costuma variar de -2°C a 2°C no inverno e de 9°C a 14°C na estação mais quente do ano. No verão, o Sol está praticamente 24 horas no céu, muitas vezes encoberto por nuvens. Já nos meses gelados, a escuridão é quase constante.

A Islândia não está sozinha na exploração da energia geotérmica (confira a tabela “Os 10 Mais” à esquerda). Na América Latina, México, Costa Rica e El Salvador são os principais exemplos. Já os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar do ranking mundial, seguidos pelas Filipinas. De acordo com Anette Mortensen, geóloga de um instituto de pesquisas mantido pelo governo islandês, o país pretende utilizar 100% de energia renovável em breve, inclusive em carros e em barcos pesqueiros. “Já fizemos experiências com automóveis elétricos e movidos a hidrogênio aqui na Islândia”, disse a pesquisadora em entrevista à ISTOÉ.

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CONTROLE
Cerca de 200 vulcões estão ativos na
Islândia. E o país tira proveito do fenômeno

Além da expansão do uso da energia geotérmica, a Islândia também aposta em uma iniciativa que lembra o pré-sal brasileiro. No caso deles, em vez de petróleo, busca-se ainda mais calor com o chamado Projeto Islandês de Perfuração Profunda. Ele pretende descobrir se a extração de energia geotérmica de fluidos em estado supercrítico – encontrados em altíssimas temperatura e pressão – pode ser viável. As perfurações devem alcançar até 5 quilômetros de profundidade. Em entrevista ao site da BBC, Albert Albertsson, gerente de uma estação de energia local, disse que a Islândia pode se tornar o “Kuwait do Norte”. “A ideia é usar a energia barata e verde e despachá-la pelo mundo”, disse. O mundo agradece.

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