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Assista a versão em vídeo da reportagem. O médico Ricardo Tavares de Carvalho explica como é possível  humanizar o atendimento na hora de dar más-notícias aos pacientes e familiares

 

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Existe uma forma menos dolorosa de comunicar a uma pessoa o diagnóstico de um câncer? Ou revelar aos pais a morte de um filho? Existe, e diversas faculdades de medicina do Brasil e do mundo começam a ensinar futuros médicos a como proceder nessas situações. Nos Estados Unidos, escolas como a Faculdade Albert Einstein criaram disciplinas para treinar seus estudantes a informar pacientes e familiares sobre um diagnóstico grave, o avanço de uma doença ou a impossibilidade de alcançar a cura.

No Brasil, a comunicação de que uma doença não pode mais ser contida, por exemplo, é um dos temas do curso de pós-graduação em ciências médicas da Universidade de São Paulo (USP). Os alunos discutem como lidar com a dor do outro e aprendem a conviver com a frustração de nem sempre conseguir salvar vidas. “O médico não pode deixar que essa ansiedade interfira na hora de dar a notícia ou que prejudique a sua própria saúde”, diz Franklin Santana Santos, professor da disciplina tanatologia: educação para a morte.

Em Brasília, na Escola Superior de Ciências da Saúde, o relacionamento médico-paciente e a informação das más notícias são discutidos desde o primeiro ano, em um eixo curricular chamado habilidades e atitudes em comunicação. Nele, os estudantes são estimulados a analisar as emoções e conflitos do paciente e seus próprios sentimentos nesses episódios.

A dificuldade dos profissionais para lidar com tais problemas é universal e levou à criação de manuais sobre a comunicação de más notícias. Um dos mais famosos é o “Protocolo Spikes”, publicado por oncologistas americanos. Ele pontua aspectos a serem observados pelo médico nesses momentos, como o ambiente em que a notícia é dada e a necessidade de um vocabulário claro para falar com o paciente. Uma das instruções é revelar as notícias ruins aos poucos, levando em conta o que a pessoa tem condições de assimilar no momento. “A verdade não pode ser enfiada goela abaixo do paciente”, diz o cardiologista Ricardo de Carvalho, especialista em cuidados paliativos do Hospital das Clínicas de São Paulo. Seu trabalho envolve terapias para conforto e alívio da dor de pacientes terminais.

Em um curso oferecido em São Paulo pelo Instituto Paliar, Carvalho orienta os alunos a repetir as informações difíceis, pois o impacto da notícia ruim dificulta o entendimento de detalhes. A equipe também deve explicar tudo o que pode fazer para amenizar a situação do paciente. Dizer que não há nada mais a ser feito pode ter efeitos devastadores.

Já uma frase simples como “pode contar comigo para o que precisar” faz diferença. O médico Ricardo Pereira, que trabalha em UTIs, viu no curso o que tinha vivenciado na prática. Ele se lembra de um episódio no qual teve de comunicar a um pai a perda do filho de 16 anos. “Fui preparado para explicar os mecanismos da morte encefálica”, diz. “Mas o pai me interrompia com frases como: ‘Doutor, eu nem terminei de pagar a bicicleta dele…’” Naquele momento, Pereira se deu conta de que mais importante do que dar informações técnicas era expressar carinho.