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Personagens da Disney e artistas levaram
as pessoas para as ruas

O cinquentenário da capital do País tinha tudo para ser marcado por uma festa inesquecível. Estava prevista, inicialmente, uma grande solenidade, na Esplanada dos Ministérios, com a presença de pioneiros, do governador e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o governo com perfil de provisório, a ameaça de intervenção e as acusações que ainda pairam sobre as autoridades do Distrito Federal esvaziaram as comemorações pelos 50 anos de Brasília. A única cerimônia com carimbo oficial foi uma missa celebrada pelo arcebispo da cidade, dom João Braz de Avis, na virada da noite de terça para quarta-feira. Mesmo assim, a presença de autoridades foi tímida, revelando a situação de desgoverno que vive a capital da República desde a prisão do exgovernador José Roberto Arruda em fevereiro deste ano. Os poucos que compareceram tiveram de ouvir um pesado sermão. “Fazer de conta que a cultura política atual deve se perpetuar é trair os melhores ideais constitucionais e religiosos”, afirmou o chefe da Igreja Católica no DF, para o constrangimento geral.

O desprestígio da missa campal foi evidenciado pela desistência, de última hora, da pré-candidata do PT ao Planalto, Dilma Rousseff, que, num primeiro momento, tinha registrado na agenda o comparecimento à missa. Apesar de estar em busca de votos, Dilma preferiu não ir a ter que se desgastar. No altar, no espaço dedicado às autoridades, estavam apenas o governador recém-eleito, Rogério Rosso, o ex- governador Joaquim Roriz, o ex-vice-governador Paulo Octávio e o deputado e ex-governador Wilson Lima, personagens do escândalo político que toma conta de Brasília desde novembro. O presidente Lula limitou-se a marcar presença na festa em comemoração aos 50 anos do jornal “Correio Braziliense”. Demais autoridades, como o vice-presidente, José Alencar, e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, responsável pelo pedido de intervenção no DF, também passaram ao largo dos festejos organizados pelo governo local. Preferiram prestigiar a sessão solene em homenagem aos 50 anos do Supremo Tribunal Federal.

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CONSTRANGIMENTO
O novo governador do DF, Rogério Rosso, foi alvo de protestos
no aniversário de 50 anos da cidade idealizada por JK

A ausência das estrelas internacionais não afugentou totalmente o público da festa popular. Mesmo assim, o comparecimento ficou abaixo do esperado. Foram 850 mil. A expectativa era de que a festa reunisse 1,3 milhão de pessoas. “Não existe telefonema de gente pedindo reserva, não tem ninguém comprando passagem”, lamentava o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes e Bares do DF, Clayton Machado, na véspera do evento. Ao contrário dos anos anteriores, nenhum político de peso ousou participar da festa. Quem se arriscou, como foi o caso do governador Rogério Rosso, teve de enfrentar protestos. Manifestantes acompanharam a cerimônia de hasteamento da bandeira nacional com uma faixa: “Brasília 50 anos. Pra comemorar, soltaram a quadrilha.” Outros usavam nariz de palhaço. Cerca de 60 estudantes também ocuparam a nova sede da Câmara Legislativa para gritar contra a corrupção. Nem nos seus piores pesadelos o ex-presidente Juscelino Kubitschek poderia prever ambiente tão hostil na festa dos 50 anos da capital idealizada por ele.