ALEXANDRE SANT’ANNA/AG. ISTOÉ

POLIVALENTES Clarice e Célio atuaram e fizeram a trilha

A história se repete milhares de vezes por dia: em diversos pontos do mundo, jovens criam e encenam seus vídeos para exibi- los no site YouTube, uma espécie de vitrine para produções amadoras na internet. Foi assim com os cariocas Célio Porto, 17 anos, e Clarice Falcão, 18. Estudantes do terceiro período do curso de cinema da PUC do Rio de Janeiro, eles produziram o curta-metragem Laços, que custou R$ 2 mil e consumiu apenas três dias de trabalho. Num concurso promovido pelo próprio site de vídeos, internautas de todo o mundo consagraram o trabalho da dupla como o melhor entre 3,5 mil concorrentes. O sucesso veio tão rápido como um cliquer no mouse do computador. O curta já foi visto por 545 mil pessoas e será exibido no maior festival de cinema independente do mundo, o Sundance, programado para janeiro na cidade de Park City, nos EUA. Rendeu um prêmio de US$ 5 mil, pouco para um cineasta, mas bom dinheiro para os dois jovens. De uma hora para outra, eles deixaram de ser anônimos estudantes e saltaram para o reconhecimento internacional.

ENCONTRO O vídeo sobre dois adolescentes foi feito em três dias, dura seis minutos e custou R$ 2 mil

Clarice, filha do diretor de cinema e de teatro João Falcão e da escritora e roteirista Adriana Falcão, ficou surpresa: “Estamos saboreando essa premiação, não sabemos ainda qual será o próximo projeto.” A direção do filme ficou a cargo de Flávia Lacerda e o roteiro foi escrito pela mãe. Nas outras funções, a dupla se desdobra. “Somos meio preguiçosos, gostamos de fazer as coisas, mas precisamos de um incentivo”, diz ela. “O concurso foi esse empurrão que faltava.” No YouTube, foram altamente favoráveis os comentários das pessoas que viram Laços, sobre um encontro entre um rapaz e uma adolescente acontecido depois da morte do pai dela. “Alguns falaram que ficaram diferentes depois de assistir ao filme”, diz Célio. Nas observações deixadas no site, internautas confessam que choraram ao ver o vídeo. Entre os que não gostaram, a principal crítica é o excesso de romantismo. “Fizemos tudo de uma forma natural, sem pretensão de sermos falsamente profundos”, explica Clarice.

Os dois criaram o argumento e interpretaram os papéis principais. Clarice compôs e cantou a trilha sonora. Não foi a primeira experiência da dupla na área: eles já tinham trabalhado juntos em Dois menos dois, também exibido no YouTube. “Queríamos ganhar experiência, não tínhamos muitas esperanças”, diz Célio. Ganharam experiência, dinheiro e fama. Agora, tentam decidir entre atuar, dirigir, criar histórias e editar. Célio passa por um período complicado, pois gosta de fazer tudo. Clarice não tem pressa em fazer a escolha: “Por enquanto, podemos nos dar ao luxo de ter dúvida. Daqui a um tempo, as coisas vão ficar mais sérias.” Com a premiação e a estréia no Sundance, essa hora vai chegar bem rápido.