19/12/2007 - 10:00
TERRA NOVA Ele se mudou para a África após ler o livro Out of Africa, de Karen Blixen, que inspirou o filme Entre dois amores
Como todos os gênios, Peter Beard começou cedo. Nascido em Nova York, aos 11 anos decidiu fotografar elementos importantes que encontrava em suas viagens. Juntava as imagens com anotações e desenhos no seu diário. Na juventude, quase se formou em medicina, mas preferiu estudar história da arte na Universidade de Yale, onde se graduou em 1955. A origem abastada – um dos seus avós era um magnata do tabaco e o outro foi o fundador da Grande Ferrovia do Norte nos EUA – prometia um futuro na elite, mas após a formatura, Peter mudou o curso da sua vida. Depois de ler Out of Africa, de Karen Blixen, que inspirou o filme Entre dois amores, se apaixonou pela África e decidiu morar no Quênia em 1960, onde comprou um rancho próximo à fazenda da autora. Peter e Karen se tornaram grandes amigos. O artista recebeu da escritora um arquivo de fotografias da região e anotações pessoais, material que utilizou nas suas colagens.
Peter decidiu trabalhar no Parque Nacional de Tsavo para entrar em contato com a natureza. Lá, testemunhou a morte de milhares de animais, que agonizaagonizaram após a escassez dos recursos naturais provocada pelo aumento descontrolado da população. Mais de 35 mil elefantes e cinco mil rinocerontes morreram na época e muitos moradores foram massacrados nas guerras entre as tribos. Ele fotografou os animais e ilustrou as colagens com textos escritos a punho e manchas de sangue. O material foi reunido no seu primeiro livro: O fim do jogo. "A aura que envolve Peter Beard é imensa. Trata- se de uma lenda viva", diz o fotógrafo brasileiro Márcio Scavone, que entrevistou o artista para a MIT Revista, da Mitsubishi Motors do Brasil. O encontro foi no sul da França, numa pequena cidade de pescadores. "Encontrei não o velho caçador que imaginava, mas um artista contemporâneo conectado com o mundo. Disse a ele que já havia retratado fotógrafos antes, mas que, desta vez, iria fotografar um leão. Ele me respondeu com um sorriso", conta.
Peter também colaborou com projetos de estrelas como Andy Warhol, Truman Capote e Francis Bacon. Fez colagens sobre Jacqueline Onassis, David Bowie e Mick Jagger, e levou estrelas da Vogue para a África, onde fez fotos de moda. Hoje, aos 69 anos, ele mora no Quênia com a mulher, Nejma, e a filha, Zara. Em 31 anos de carreira, colaborou com 45 livros de fotografia e artes plásticas. Recentemente, suas colagens foram reunidas no catálogo Peter Beard Collector’s Edition (Editora Taschen, 2007), que reúne toda a sua obra em mais de 600 páginas. O livro, que já está esgotado, custa US$ 10 mil.
A TÉCNICA DE PETER
A criatividade de Peter Beard não tem limites. Nos temas africanos, o artista juntava pedaços dos ossos, sangue dos animais, pedras, artefatos africanos, insetos, fotografias em sépia e folhas secas das savanas nos scrapbooks. As colagens de moda, e sobre artistas, reuniam fotografias inéditas de mulheres, transcrições de mensagens telefônicas, recortes de jornal, citações de escritores e poetas, além de objetos pessoais.
