FOTO SEARCHQuem freqüenta a noite percebe que os códigos de conquista entre homens e mulheres estão mudando. Assediar o sexo oposto era prerrogativa masculina. Não é mais. Agora, são as mulheres que arrastam os homens pelos cabelos até a caverna – ou pela gravata até o quarto, adaptando a imagem-símbolo da pré-história. O atual descompasso entre quem é caça e quem é caçador gera uma certa tensão na ala masculina, dividida entre aplaudir e rejeitar a mudança comportamental. Indiferentes, as mulheres desenvolvem estratégias de ataque, como a produtora carioca Carolina Tavares, 27 anos. “Primeiro, eu bebo um pouco. Depois, se estou numa fila de banheiro de um bar, puxo conversa. Eu já chego chegando, falando de pertinho que é para beijar logo”, diz ela. A paulista Inti Annie, 29 anos, também não costuma ficar esperando um convite. “Eu estava num show, olhei para o percussionista da banda e falei: ‘Quero esse homem agora!’” Ela esperou o cara sair do palco, atacou com um olhar lânguido e “rolou”. Ou seja, eles passaram a noite juntos. “Ele percebeu no meu olhar o que eu queria e graças a Deus queria o mesmo”, arremata ela, que nem religiosa é. Inti só é diferente no nome inca, mas sua justificativa é recorrente: “As mulheres estão mais bem resolvidas.”

"Eu já chego chegando, falando de pertinho que é para beijar logo"
Carolina Tavares

Moradora da zona nobre do Rio e formada em cinema, Carol explica o limite: “O ataque fica mais na coisa da balada com beijinho e mão boba. Sexo com quem não conheço, fico com medo, mas é uma paranóia de cidade grande porque tem muito maluco solto”, resume, em nome de sua geração. Porém, assume que “dependendo do nível etílico”, o temor de dormir com um maluco vai para o espaço. “O sexo faz parte, né?” O clima de FlaFlu das noites também provoca novidades no comportamento dos homens. Se antigamente eles topavam ficar com qualquer garota que se oferecesse, hoje selecionam. “Às vezes, levo toco”, afirma Carol. “Tem de aprender a lidar com a rejeição.”

FOTOS: ALEXANDRE SANT’ANNA/AG. ISTOÉ

"Olhei para o percussionista da banda e falei: ‘Quero esse homem agora’"
Inti Annie

A estudante paulistana Daya Coelho, 29 anos, mora no Rio desde 2005 e está prestes a encerrar sua fase de atacante: “Vou me casar.” O noivo é quase uma ex-vítima. Ela conta: “Somos colegas de faculdade na Universidade Federal Fluminense. Eu cheguei e propus: ‘Vamos namorar hoje porque é Dia dos Namorados e nós não temos ninguém’? Ficamos naquele dia. Em outros também. Resolvemos morar juntos agora.” Antes dele, Daya mantinha uma estratégia diferente. “Era mais para me aproximar intelectualmente do que sexualmente. Meu lance era encontrar as afinidades intelectuais, bom papo, boa cultura…” Sua bandeira é a do amor livre.

Se depender do músico carioca Fábio Sant’Anna, 30 anos, a proposta vai longe: “As mulheres estão independentes, moram sozinhas, pagam suas contas, por que teriam que ficar esperando a iniciativa masculina?” Mas, se contar a avaliação do engenheiro mineiro Cristiano Alvarenga, 31 anos, a bandeira terá que ser repensada. “Está demais! Não me excita nem atrai isso. Elas estão boicotando o romantismo e partindo pra cima com muita agressividade. Tô fora.” Fábio pondera que lutar contra essa atitude feminina é perda de tempo: “Mário Lago já dizia que quem escolhe mesmo são as mulheres. A gente só se põe na frente delas para ser escolhido.” Embora não tenha preconceito, ele já declinou de um convite. “A garota chegou e falou: ‘Vamos para o banheiro?’ Respondi que não. Estávamos numa boate, achei que não tinha nada a ver.” Ele diz que tem amigos que ficam assustados com as investidas. “Eles se dizem desarmados. A garota dá aquela chegada e eles ficam dois minutos sem saber o que fazer.”

A psicanalista carioca Maria Inês França, doutora pela PUC e autora do livro Psicanálise estética e ética do desejo, diz que tudo isso faz parte de um processo de elaboração da identidade feminina que não pode ser visto como reação das mulheres ao poder masculino tradicional. “O lugar feminino foi se tornando cada vez mais – pela via do trabalho, da família, etc. – um lugar mais ativo na sociedade. Natural que se manifeste também no ato da conquista. Se há exacerbação, isso é que é muito novo”, explica. Há. Basta ler alguns depoimentos postados em comunidades da internet como “Mulheres de atitude”, com 26 mil membros. Identificado apenas como Gustavo, 23 anos, ele relata: “Eu estava dançando quando senti uma mão agarrando meu pênis. Era uma gatinha nissei, doida de tesão. Eu disse que, se estava a fim, não precisa pegar, bastava pedir.” Já Laércio Cruz, 27 anos, se diz “vacinado” contra essas abordagens. “Aprendi que tem muitas que ficam provocando de longe, mas fogem na hora em que você chega. Não suporto mulher pipoca, que dá em cima e corre.”