WELLINGTON CERQUEIRA/AG. ISTOÉ; GASPAR NÓBREGA/VIPCOMM; FERNANDO GOMES/RBS

Mal acabou de ser rebaixado para a série B do Campeonato Brasileiro e o Corinthians anunciou uma contratação de peso para tirar o time da situação constrangedora. Não, não se trata de um camisa 10 ou um atacante matador, apesar de o salário ser de craque: R$ 250 mil mensais. O salvador da pátria não calça chuteiras nem toca na bola no jogo: é o gaúcho de Passo do Sobrado Mano Menezes, ex-técnico do Grêmio, que o contratou dois anos atrás por um salário de R$ 30 mil. Com a atual remuneração, Mano entra no time dos treinadores que se transformaram em atores principais do espetáculo. Essa categoria tem crescido na mesma proporção da evasão de jogadores para o Exterior. “Se não temos talento dentro de campo, compensa- se com o comando, a organização, a estrutura e o relacionamento”, diz Mano, que terá direito a um prêmio de R$ 1 milhão caso retorne com o Corinthians à série A. “O treinador, hoje, é como um executivo de empresa e gerencia a carreira do jogador”, afirma.

Sem craques jogando, é o “professor” quem decide a maioria das partidas, seja aos berros na beira do gramado, seja taticamente no vestiário – e, portanto, ganha bem por isso. Assim acontece com Vanderlei Luxemburgo, que recebe meio milhão de reais todo mês no Santos. É mais do que Luiz Felipe Scolari, pentacampeão mundial em 2002, que ganha R$ 325 mil por mês para dirigir a seleção de Portugal. Hoje, a falta de craques no Brasil é tamanha que um dos jogadores mais bem pagos por aqui é um goleiro – Rogério Ceni, que ganha R$ 200 mil mensais do São Paulo.

O clube paulista, aliás, conta com um treinador que faz a engrenagem do time funcionar sem uma estrela em campo: é Muricy Ramalho, salário de R$ 250 mil. “É perigoso papagar salários tão altos. É como se transferisse a responsabilidade dos jogadores para o treinador”, diz Beto Abrantes, diretor de futebol do Atlético Mineiro. “Nada justifica pagar tanto. O Corinthians, por exemplo, tem uma dívida de R$ 100 milhões!”, diz o consultor de marketing esportivo Mário Luiz Soares, que defendeu a tese de doutorado A miopia do marketing esportivo dos clubes de futebol do Brasil, na Universidade de São Paulo.

O time de Belo Horizonte, porém, lançou mão de Emerson Leão, outro treinador-estrela, que pediu e recebeu R$ 300 mil mensais para afastar o time da zona do rebaixamento do brasileirão. “Pagamos fora do nosso patamar, mas foi um treinador de tiro curto, para atingir um objetivo específico”, explica Abrantes. Para Marco Aurélio Klein, professor de marketing esportivo da Fundação Getúlio Vargas, os treinadores contratados a peso de ouro são, para os clubes, os profissionais que recuperarão a empresa: “Fechar com um treinador de prestígio gera expectativas positivas, acalma investidores, acionistas e torcedores.” Assim fez o Corinthians. Pagou alto para Mano apostando na sua credibilidade – ele já havia tirado o Grêmio da série B, em 2005. “Mano fará parte da primeira geração de técnicos ricos do País”, afirma o consultor Soares.