As calculadoras financeiras dos economistas nunca trabalharam tanto. Em bancos, empresas, consultorias, entidades de classe e universidades, todos os que acompanham as contas nacionais estão tendo de rever – para cima, felizmente – suas estimativas para o crescimento da economia. Na quarta-feira 12, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou números auspiciosos. O Produto Interno Bruto (PIB), soma de toda a riqueza gerada por produtos e serviços no País, cresceu mais que o esperado no terceiro trimestre deste ano: 5,7%, se comparado a igual período de 2006. É o melhor resultado desde o segundo trimestre de 2004. A alta, em relação ao segundo trimestre de 2007, foi de 1,7%, o que representa um crescimento anualizado de 6,98%. Essa boa notícia não ofuscou a má notícia, para o governo Lula, da queda da CPMF no Senado. Mas indicou que, apesar dos embates políticos em Brasília, há muita luz no fim do túnel para a classe produtiva.

Na prática, o aumento do PIB entre julho e setembro significa que o Brasil já alcançou a meta do governo, de crescer acima de 5% ao ano. Diante da nova estatística do IBGE, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), uma das entidades mais críticas da política econômica do ministro da Fazenda, Guido Mantega, revisou de 4,8% para 5,4% a projeção de crescimento do País em 2007. “Vivemos um período virtuoso e vamos assistir a um ano daqueles que gostamos, em que o PIB industrial vai crescer mais que o do País”, afirmou o diretor do Departamento de Economia da Fiesp, Paulo Francini, para deleite de Mantega. Dois dias antes, o próprio ministro havia feito um discurso bastante otimista na festa de premiação do Brasileiro do Ano pela revista ISTOÉ, em São Paulo (leia reportagem completa a partir da pág. 59). “É um privilégio ser ministro da Fazenda quando a economia brasileira vive o seu melhor momento nos últimos 25 anos”, afirmou Mantega. E cravou: “A economia brasileira vai crescer a 5% do PIB. O esforço é para que esse crescimento não seja efêmero, seja sustentável.”

Os ministros da Fazenda costumam ser, por dever de ofício, mais otimistas que os demais mortais. Afinal, nenhum deles quer que o pessimismo prevaleça e ofusque os resultados econômicos de seu governo. E com razão: a economia de qualquer país é movida a expectativas. Mas, quando as previsões de Mantega do início do ano começam a se materializar nas projeções do mercado, é sinal de que algo mudou para melhor no mundo da produção. Segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, divulgada no dia 7 deste mês, o mercado financeiro previa um crescimento do PIB de 4,71% este ano e de 4,3% em 2008. Esses números começam a subir.

No quartel-general do Bradesco, o maior banco privado do País, o economista Otávio de Barros aumentou para 5,2% sua estimativa de crescimento do PIB brasileiro deste ano. E o economista da Credit Suisse Hedging Griffo, Elsom Yassuda, elevou sua projeção de 5% para 5,4%. Para 2008, ele manteve a previsão de 4,7%, até então mais otimista que a média do mercado. “A expansão está forte. Há uma boa absorção da demanda doméstica e os investimentos estão crescendo, o que é muito bom”, afirma Yassuda. “É uma história que vamos continuar vendo nos próximos trimestres.” De fato, é um crescimento de qualidade. Entre julho e setembro, os investimentos cresceram 14,4% em relação a igual período de 2006. É a maior expansão industrial desde 1995. Segundo o Ministério do Trabalho, este ano 1,9 milhão de empregos formais foram criados até novembro. O mercado de capitais está pujante e as empresas, que voltaram a captar recursos na Bovespa, deverão investir mais em 2008. Desde janeiro, as ofertas de ações na bolsa somaram R$ 62,4 bilhões, o dobro do ano passado. “É dinheiro que vai virar decisão de investimento no próximo ano”, prevê Yassuda. Segundo o IBGE, os investimentos atuais têm sido mais fortes na aquisição de máquinas e equipamentos pelas indústrias e empresas agropecuárias. Esse movimento vai ajudar a manter a atividade econômica aquecida em 2008, um ano provavelmente mais difícil para o mundo todo devido à crise do setor imobiliário nos EUA.

Os maiores riscos, para o Brasil, são de que o crescimento mais forte que o habitual volte a acordar o velho fantasma da inflação. Otávio de Barros não perde o sono com isso. “Esses riscos são mitigados pela composição saudável do crescimento. Os investimentos têm crescido muito mais que o consumo e as importações têm tido um papel relevante de complementar a oferta”, afirmou o economista do Bradesco. Noves fora, o ministro Mantega deverá manter o sorriso no ano que vem.