Fernando Dutra Pinto (foto) era o bandido preso mais famoso do Brasil. Construiu a sua fama aos poucos. Vinte por cento porque sequestrou Patrícia Abravanel, filha de Silvio Santos. Outros 20 porque expôs publicamente a desastrada operação de alguns policiais que foram ao flat onde ele estava escondido para prendê-lo e recuperar parte dos R$ 500 mil pagos de resgate, sem avisar a Delegacia Anti-Sequestro de São Paulo. Dois policiais morreram, um ficou ferido, e Fernando, também ferido nas nádegas, conseguiu fugir deslizando pela parede exterior do prédio como um homem-aranha: as costas apoiadas numa parede, os pés na outra. Os 60% restantes de fama devem-se ao fato de ele ter voltado à casa de Silvio Santos e ter-se dado ao luxo de se render somente na presença do governador Geraldo Alckmin. Agora Fernando Dutra Pinto é o bandido morto mais famoso do Brasil – faleceu aos 22 anos na quarta-feira 2. E os seus 100% de fama foram construídos pelas misteriosas circunstâncias de sua morte. Os primeiros 20% ficam por conta da versão que sustenta que a culpa foi da carne de porco servida na sexta-feira 28 no Centro de Detenção Provisória, no bairro paulistano do Belém, onde ele estava preso. Funcionários e 880 presos comeram a mesma carne de porco. Só o pedaço dele estava estragado? Outros 20% correspondem à possibilidade, já anunciada, de uma não solução do caso: a necropsia acusou infecção generalizada, mas foi dito que os medicamentos que lhe deram para tratar de uma broncopneumonia podem impedir a checagem de envenenamento no exame toxicológico dos órgãos. Os 60% finais da fama póstuma são os que valem: Fernando era o mais precioso arquivo vivo para o esclarecimento definitivo do que ocorreu no flat onde estava parte do dinheiro do resgate.