Dou uma busca no Google à cata de informações sobre a temporada que o lendário cantor Cauby Peixoto faz num bar tradicional de São Paulo. Há tempos faço planos de ir ver seu show, fã que sou do Cauby, herança de meu pai, que o colocava, ao lado de Nelson Gonçalves, como o maior cantor brasileiro de todos os tempos. Pois bem, um dos primeiros resultados da busca diz que “o cantor brega Cauby Peixoto se apresentará etc., etc., etc.” … Bom, Cauby pode ser muita coisa, menos “brega”, a não ser que os cantores veteranos sejam automaticamente alçados à categoria de brega só porque envelheceram. O homem foi (e é) um ícone de elegância, tanto vocal quanto pessoal – seu caprichado figurino é uma de suas marcas -, e, se bem me lembro, o preconceituoso rótulo de brega significa exatamente o contrário disso – chulo, vulgar, subcultural, popularesco.

Noutro site, há um vídeo anunciando: “Cauby canta Sampa.” Dou play, nunca ouvi Cauby cantando “Sampa”, a clássica homenagem de Caetano Veloso à cidade de São Paulo. Então ouço: “Volto pra casa abatida, desencantada da vida…”. Espera!… Mas… essa canção não é “Sampa”, mas “Ronda”, outro clássico, este de Paulo Vanzolini, outro grande mestre da canção brasileira. Confusão até compreensível,
uma vez que a música do baiano faz uma alusão melódica e poética à canção do paulista, no verso “cena de sangue num bar da avenida São João”. Sim, compreensível, mas imperdoável. Enfim, alguns sites, blogs e dados errados depois, eis que chego a uma informação segura e confiável, com todo o serviço do show – hora, data, local, preço, etc. Ufa!

Lembrei-me imediatamente de Joana, uma amiga que tive, um tipo muito curioso. Inteligente, articulada e com uma grande capacidade de absorver informações, mas com uma mente dotada de uma mecânica muito particular, caótica até, Joana embaralhava as mil informações que sugava como uma esponja, repassando-as de modo confuso, sempre por aproximação, o que fazia dela um personagem engraçado, quase folclórico.

Se alguém dissesse a Joana que o novo técnico da Seleção Brasileira é o Dunga, ela seria capaz de repassar a informação de duas maneiras: “sabe quem é o novo técnico da Seleção? O Falcão”. Ou então: “o Zangado é o novo técnico do Brasil, sabia?”… Exageros à parte, era assim que funcionava a cabeça de Joana, com conexões mentais muito próprias e apressadas, que chegava à verdade dos fatos por vias muito tortuosas e que, por isso, se transformou em motivo de risadas e chacotas na turma Mal comparando, o Google é como Joana. O Google, este pequeno feitiço tecnológico, é uma dádiva, não resta dúvida. Mas é bom, muito bom, para quem tem informação e filtro – e pode peneirar os difusos e infinitos dados ali postados –, e ruim, ou mesmo pernicioso, para quem não os tem. E nesse particular, jovens em formação (não só cultural) são as maiores “vítimas” da facilidade e da instantaneidade do Google. Como se cria filtro? Com educação e cultura. Não há mágica. Para criar senso crítico, há que se conhecer. Pouco vale ter o acesso à informação se não há estofo para julgá-la.

O que talvez nem Joana nem o Google saibam é que Cauby Peixoto foi (e continua a ser) um dos maiores intérpretes da música brasileira, um artista versátil como poucos, que gravou desde clássicos românticos de nossa música até versões de tangos, rumbas e calipsos, verdadeira febre no Brasil nos anos 50. É de Cauby também a proeza de gravar o primeiro rock composto em português, cujo nome é… Um momento, deixe-me consultar o Google rapidamente… É… Deixa ver, hum, cadê, não, ah, aqui, achei: “Rock and Roll em Copacabana”, autoria de Miguel Gustavo, lançado em 1958. Acredite se quiser.