É um livro tipo assim, argh! Dito desta forma, pode parecer papo de mauricinóide chapadão ou de gente que faz dieta vegan (perdão, vegetariana), mas não é nada disso. A série literária Gossip girl (Record, volume 1: As delícias da fofoca, 256 págs., e volume 2: Você sabe que me ama, 288 págs., ambos R$ 32,90), de Cecily von Ziegesar, usa esse vocabulário-código dos jovens para falar do universo teen. “Tipo assim” pontua quase todos os diálogos, exatamente como na vida real de adolescentes. A autora fala de jovens cheios de dinheiro e vazios de ideais, mas não de conflitos. Eles moram em incríveis apartamentos no Upper East Side, em Manhattan, estudam em colégios altamente seletivos, consomem álcool, drogas e articulam festas. Ok, isso não parece ser muito atraente – como pode, então, agradar tanto?

Uma pista: Gossip girl tem sido chamado de “Sex and the city para jovens”. Outra: atrás da indiferença daqueles adolescentes anoréxicos e bulímicos há – bingo! – mensagens interessantes. Por exemplo, a capacidade destrutiva da inveja. Serena van der Woodsen é uma jovem linda, rica e sensível, o que provoca o ódio de quase todas as garotas do colégio. Incapazes de suportar uma colega bonita e legal, as “amigas” torcem para que ela sofra um acidente e fique terrivelmente mutilada. Já os garotos, todos, querem ficar com ela – o que só piora sua situação com as meninas. Serena sofre. E, como também não é de ferro, tenta espairecer fazendo umas comprinhas na Barneys e tomando um drinque – rosa, para combinar com o vestido – num bar chique.

A perspicácia da autora em retratar as demandas, carências e pendengas dos jovens é oposta à capacidade de falar dos pais, retratados no velho clichê que associa riqueza a egoísmo. Bêbados, cretinos e fúteis, eles não parecem se
importar com os sentimentos dos filhos e são exemplares ao envergar modelitos Oscar de la Renta ou exalar a Chanel nº 5. A Sears, que fique bem claro, é “loja de departamentos de proletariado”. A vida transcorre entre e-mails e torpedos de celulares, várias frustrações e lágrimas furtivas. Tudo bem, desde que haja um arrasadora festa no sábado e seu nome esteja na lista de convidados. Gossip girl,
à sua maneira, fala da sociedade do espetáculo em sua versão teen, mas nem por isso menos cruel.