MAX G PINTO/ FOTOS: LUCIANO AMARANTE/FOLHA IMAGEM

TRAMA O médico Uip (acima) foi ameaçado por Anésio e Andréia . Os dois já estão na cadeia

Chantagem, extorsão, ameaças e roubo são os principais ingredientes de uma história de terror envolvendo o infectologista David Uip, diretor-executivo do Instituto do Coração (InCor) e presidente da Fundação Zerbini, em São Paulo. Durante sete meses, ele recebeu mensagens telefônicas, e-mails, sofreu fraudes nas suas contas bancárias e cartões de crédito. “O pior foram as ameaças de morte feitas à minha família. Eu, minha mulher e meus três filhos vivemos um cativeiro emocional”, disse à ISTOÉ.

Na quarta-feira 12, a polícia fez a primeira prisão de envolvidos na trama. O desempregado Anésio Rossi Júnior, 34 anos, foi detido quando recebia um cheque de R$ 50 mil no Terminal Rodoviário Tietê. Sob orientação da polícia, Uip convenceu o chantagista de que era melhor enviar outra pessoa para fazer o pagamento, combinado por telefone, já que é uma pessoa conhecida. No seu lugar, foi um policial. Rossi confessou a participação da mulher, Andréia Minessi Rossi, 32 anos, que foi detida em seguida. Ela é ex-chefe das telefonistas de um callcenter que marcava consultas e foi demitida por Uip há dois anos por insubordinação.

Uma das hipóteses para o crime é de que teria sido vingança por causa da demissão. No entanto, também existe a suspeita de um complô armado por um mandante – provavelmente um médico rival – para desmoralizar Uip. Oficialmente, porém, o delegado- assistente Waldomiro Milanesi, do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado, negou a informação. “O casal disse que arquitetou cada detalhe da extorsão, mas trabalharemos com todas as hipóteses”, afirmou. Até quinta-feira, a polícia não tinha esclarecido como o casal conseguiu números de documentos como CPF e RG do médico e dados da sua declaração de Imposto de Renda, como a sua lista de bens e contas no Exterior. A suspeita de Milanesi é que as informações foram obtidas de funcionários do InCor. Em depoimento à polícia, Andréia negou que houvesse um mandante, mas disse que obteve as primeiras informações de um inimigo do médico que trabalha na Fundação Zerbini. “Não sei se essa história está acabando ou começando”, disse Uip.

A perseguição teve início dois meses depois de o médico ter assumido a presidência da fundação (a entidade administra os recursos destinados ao InCor), em meio a uma grave crise financeira. O infectologista recebeu um telegrama fonado e em seguida começaram os telefonemas de madrugada para sua casa. As primeiras mensagens acusavam o médico de desviar dinheiro da fundação, mas o terror culminou com o envio da foto de uma mulher supostamente morta com o nome do médico escrito nas costas. “As ligações começavam às duas da manhã. Logo no começo fui à polícia, que desde então acompanha o caso”, contou Uip à ISTOÉ. O passo seguinte foi a invasão das contas bancárias do médico (de uma delas foram desviados R$ 16 mil, ressarcidos pelo banco), clonagem dos cartões de crédito e compras pela internet. Na noite da prisão dos acusados, homens em um carro roubado tentaram entrar na casa do médico passandose por funcionários da Eletropaulo.

O médico não descarta a hipótese de retaliação. “Quando você assume cargos de importância, não satisfaz todo mundo. Mas é a polícia que vai apurar o que há por trás disso”, disse. De fato, médicos ouvidos por ISTOÉ afirmaram que o infectologista tem desafetos no InCor. Alguns criticam sua exposição na mídia e acusam-no de fazer marketing de suas realizações. Outros não toleram o fato de um infectologista ter liderado a melhor instituição de cardiologia da América Latina. Uip deixará o cargo do InCor na semana que vem.