A novela do salvamento da Varig, a
mais tradicional empresa aérea brasileira, está próxima de um final feliz. E a canção de fundo será um fado, a tradicional música portuguesa. Mas, como o fadista que vai cantar é um brasileiro, Fernando Pinto, presidente da TAP – a rejuvenescida e eficiente estatal aérea de Portugal –, a música-tema bem poderia ser o Fado tropical de Chico Buarque de Hollanda. Os sorrisos de Fernando Pinto e de David Zylbersztajn, recentemente nomeado presidente do Conselho de Administração da Varig, na quinta-feira 2, ao saírem de uma reunião no Palácio do Planalto com o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, e os ministros da Fazenda, Antônio Palocci, e da Casa Civil, José Dirceu, foram o sinal mais claro de que o negócio está voando em céu de brigadeiro. “O ministro Palocci considerou que nossa proposta tem início, meio e fim. É um plano bem-estruturado e totalmente exeqüível”, afirmou Zylbersztajn. Fernando Pinto confirmou que a TAP coordenará um grupo de investidores portugueses que ficará com 20% do capital da Varig, o
máximo permitido por lei.

Mas a proposta, que pega a Varig em um bom momento, com crescimento de 22,7% nas receitas líquidas do primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, e redução de 70% no prejuízo, não envolve apenas dinheiro. A capitalização, segundo apurou ISTOÉ, poderá incluir também aviões novos – provavelmente Airbus de vários modelos, como utiliza a estatal portuguesa. Isso resolveria um dos problemas que a Varig enfrenta: a exigência da International Leasing Finance Company (ILFC) de receber todos os atrasados do aluguel de dez Boeings ou então levar as aeronaves de volta. A ILFC é subsidiária da AIG, que detém 20% do capital da Gol. O governo brasileiro decidiu acelerar as negociações sobre o futuro da Varig, que envolvem uma dívida em torno de R$ 9 bilhões, que seriam parcialmente compensados com cerca de R$ 3 bilhões de terá que devolver judicialmente à empresa aérea, por causa de prejuízos causados pelo congelamento de tarifas na década de 90. Fernando Pinto, que já foi presidente da Varig e hoje é um dos dois brasileiros mais populares de Portugal (o outro é Luiz Felipe Scolari, técnico da seleção lusa), vislumbra a sinergia entre as duas empresas como grande trunfo do negócio. A TAP, hoje uma empresa modelo, faz 39 vôos semanais para o Brasil (Rio, São Paulo, Salvador, Recife, Natal e Fortaleza). As linhas internacionais da Varig abririam, por exemplo, as portas da América do Sul para a empresa portuguesa. Chico Buarque, em seu fado, dizia, em crítica ao regime militar, que o Brasil ainda iria se transformar “em um imenso Portugal”, à época também sob uma velha ditadura. Nos novos tempos, em que Portugal e Brasil têm governos de esquerda, a Varig se transformar em uma imensa TAP pode ser um grande negócio.