A Polícia Federal prendeu na
terça-feira 31 o ex-funcionário de uma casa de câmbio do Recife sob a acusação de fabricar dossiês contra políticos destinados à venda e à extorsão. Alexandre Magero, 29 anos,
foi preso na capital pernambucana por ordem da Justiça de São Paulo, onde um inquérito apura o seu envolvimento em dois golpes mirabolantes, um contra um procurador da República e outro cuja investigação, segundo informações da PF, envolveu até o FBI, a Polícia Federal americana. Em São Paulo, Magero tentou arrancar dinheiro do procurador Pedro Barbosa, responsável pelo processo contra o chinês Law Kin Chong, preso por contrabando e corrupção. Dizendo-se um integrante do esquema do chinês
disposto a dar informações, Magero pediu dinheiro – R$ 1 mil – para viajar do Recife a São Paulo e prestar um depoimento oficial ao procurador. Mas, feito o depósito bancário, Magero sumiu.

O FBI entrou nas investigações por causa de e-mails que Magero começou a enviar para a embaixada americana em Brasília. Ele afirmava ter informações sobre uma conspiração que pretendia acusar os americanos de serem os autores de uma trama política contra o governo brasileiro. Magero, que é investigado em seis inquéritos por estelionato, extorsão, calúnia e falso testemunho, teria informado à embaixada que políticos do PSDB estariam abrindo contas em paraísos fiscais em nome de integrantes do governo federal. Magero também se enfiou nas investigações da máfia dos fiscais do Rio de Janeiro, repassando informações à polícia. Um governador e vários deputados federais teriam dado dinheiro a Magero sob a promessa de ter acesso a informações contra adversários.

No Recife, onde nasceu e morou boa parte da vida, Magero é conhecido da Polícia Federal como uma espécie de informante. Trabalhou por anos nas casas de câmbio Anacor e Norte Câmbio, ambas acusadas pelo Banco Central de fazer operações ilegais no mercado de câmbio.

Remessas – Nos últimos cinco anos, Magero prestou pelo menos dois depoimentos a procuradores do Ministério Público Federal dizendo ter conhecimento de esquemas de remessa de recursos ao Exterior, compra e venda de dólares no mercado negro e negócios em nome de laranjas feitos por vários políticos. Entre eles o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), a governadora do Rio Grande do Norte, Wilma Faria (PSB), o ex-presidente da Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PMDB-PE), o ex-senador Carlos Wilson (PSB-PE), o deputado e presidente da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro Neto (PTB-PE), o deputado e ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos (PSB-PE) e Fernando Catão, ex-secretário nacional de Políticas Regionais de Fernando Henrique Cardoso. Suas denúncias viraram inquéritos, que foram noticiados por ISTOÉ, e chegaram até a Procuradoria Geral.

“Ele cria dados em torno de algumas informações reais e inventa histórias”, afirma Victor Hugo Ferreira, delegado da PF responsável pela prisão de Magero. O delegado também apreendeu na casa de Magero um computador, documentos e fitas gravadas. Não está descartado o envolvimento de outras pessoas no caso. “Sempre soube que esse sujeito era um falsário e tinha certeza de que a verdade apareceria”, diz o governador paraibano Cássio Cunha Lima. As declarações de Magero chegaram a gerar um inquérito para apurar a existência de uma conta nas Bahamas em nome da governadora Wilma Faria. O inquérito foi arquivado a pedido do próprio Ministério Público por falta de provas.