A goiana Aline Calassa, 22 anos, vai incluir seu nome na história da aviação no próximo dia 23 de outubro. No mesmo dia do ano, horário e local em que Santos Dumont, há 100 anos, saiu do chão pela primeira vez num objeto com força própria mais pesado que o ar, o 14-Bis, ela voará no Campo de Bagatelle, em Paris, com uma réplica absolutamente fiel à criação do inventor brasileiro. “Estou ansiosa para reviver um dos maiores feitos da humanidade”, confessa Aline. A peça foi desenvolvida pelo pai da jovem, o empresário Alan Calassa, 45 anos, a partir de fotos e registros expostos em museus da Europa, pois o projeto original de Dumont não existe mais (conheça os detalhes da aeronave no quadro). “Mesmo com toda a tecnologia atual, foi difícil construir. Imagine isso há um século”, compara Alan Calassa.

A idéia de emplacar uma réplica do 14-Bis era um sonho de infância de Alan. Em 2002, na Europa, embarcou numa viagem pela vida de Dumont. De volta ao Brasil, trouxe cópias de registros do 14-Bis, uma tatuagem do avião nas costas e a idéia de construir a réplica. Depois de três anos de trabalho e vários momentos em que pensou em desistir por falta de patrocínio, concluiu a engenhoca com um investimento pessoal de R$ 1,5 milhão. Uma ajuda de R$ 230 mil, da Embraer, quase veio em meados do ano passado. A empresa desistiu de oferecer o dinheiro depois que técnicos da Força Aérea Brasileira consideraram a proposta dos Calassa inviável. O primeiro vôo ocorreu na pista do aeroporto de Caldas Novas, em dezembro de 2005. De lá para cá, o 14 Bis dos Calassa já voou 50 horas. São vôos de até 55 segundos no ar, alcançando 600 m de distância, a uma altura de 10 m. O 14 Bis de Dumont era mais modesto. Foram três vôos de 21 segundos a 3 m do solo, sobrevoando até 220 m de extensão. Mas por que essa diferença? Calassa garante que o motivo é a pilotagem. “Apesar de Santos Dumont ter o espírito do inventor, ele não era piloto”, avalia o fã.

Calassa conseguiu voar no primeiro teste. Mas percebeu que teria dificuldades de pilotar dentro do cesto, projetado nas medidas exatas de Santos Dumont, mais baixo e magro que o empresário. A solução foi encontrada em casa. “Aline, quem voará em Paris será você”, decretou. Em 2007, Alan vai lançar um livro com o título provisório 14 Bis – cem anos depois, construindo a réplica e colocar para voar a reprodução do que ele considera o melhor Balão de Dumont, o dirigível nº 9. “Em dez anos ele fez 22 aeronaves. Estou reconstruindo as mais importantes, mas também vou fazer algo meu”, promete Alan. O espírito de Santos Dumont parece definitivamente encarnado.