Após dias de tempestade, com uma sentença que tornou inelegíveis a governadora Rosinha Matheus (PMDB) e seu marido, Anthony Garotinho, os bons ventos sopram em direção ao casal. Na mesma semana, a sentença foi suspensa e uma pesquisa CNT/Sensus apontou Rosinha em terceiro lugar
entre os melhores governadores. Com um detalhe
que cai como luva no sonho presidencial de
Garotinho: ela foi destacada por 13% dos entrevistados, índice superior à proporção dos fluminenses no eleitorado nacional (8,35%). O primeiro colocado, Geraldo Alckmin, governa um Estado com 21,86% do eleitorado e foi citado por 18,4%. Com uma animação que desmente os boatos de que estaria doente, Rosinha se diz “pronta para a briga”. Comemora o crescimento espetacular da economia fluminense, em um ritmo 70% superior à média brasileira, e critica sem cerimônias o presidente Lula, acusando-o de discriminar o Rio de Janeiro, entregar a economia nacional aos bancos e não cumprir o que prometeu: “A cópia está pior do que o original.”

ISTOÉ – Os críticos atribuem o crescimento do Rio ao petróleo e às ações do governo federal. Faz sentido?
Rosinha Matheus –
Quais ações? Eu não conheço uma. O governo faz é muita propaganda com o trabalho dos outros. O Rio é o Estado que mais cresce, e querem dar uma freada. É nítido que existe algo contra o Estado.

ISTOÉ – As renúncias fiscais que atraem as empresas para o Rio não comprometem as contas públicas?
Rosinha –
A guerra fiscal existe e o Rio a fazia muito timidamente. Entramos na competição com São Paulo e o Nordeste, que sempre a fizeram. Minha sugestão para acabar com a guerra fiscal é cobrar os impostos no destino, do consumidor. Mas isso depende de uma reforma tributária que não vai ser aprovada.

ISTOÉ – As relações com o governo Lula estão melhorando ou piorando?
Rosinha –
Nunca houve relação. Fizemos campanha, votamos nele e eu achava que, depois da posse, deveríamos pôr a política de lado pelo entendimento. Mas não adianta ir a Brasília conversar com presidente, ministro, se nada acontece. O governo não fez nada pelo povo daqui, que votou nele. Nas enchentes, vieram vários ministros prometer, como Ciro Gomes e Olívio Dutra. Não fizeram uma casa. Em saneamento, nada. Tudo o que fizemos foi com recursos próprios. O governo não sabe a que veio. Cadê os empregos que Lula prometeu? Cadê os juros baixos?

ISTOÉ – Quais seus planos para depois do governo?
Rosinha –
É cedo, muita água vai rolar. Teremos muitos adversários a enfrentar, como o sistema financeiro e parte da mídia. A sentença da juíza de Campos, de nos tornar inelegíveis, rendeu oito páginas no Globo. Tem muita coisa boa acontecendo aqui e nenhuma manchete nos dá nenhum crédito. Quando dizem que o Rio cresce, é como se tudo caísse do céu.

ISTOÉ – A pesquisa mostra os governadores de São Paulo e Minas Gerais como os mais bem avaliados. Que avaliação a sra. faz do desempenho deles?
Rosinha –
A mídia às vezes favorece uns mais que outros. Fizeram uma
publicidade enorme do Aécio Neves porque chegou ao déficit zero. Eu encontrei
mais de R$ 2 bilhões de déficit, tive superávit no primeiro ano e aumentei no segundo. Ninguém fala. Fico até muito feliz de estar em terceiro debaixo dessa pancadaria. E feliz de Garotinho ter subido, estar em segundo para presidente, com tantas manchetes contra.

ISTOÉ – A sra. poderia votar em Lula outra vez?
Rosinha –
Já votei três vezes, não sei se voto mais. Ele deixou a desejar. Lula era
um mito e todos achavam que ele mudaria algo, mas não mudou nada. A cópia
está pior do que o original.

ISTOÉ – O fato de ter segurado a economia não é uma façanha?
Rosinha –
Ele não está segurando a economia, está segurando o dinheiro dos investimentos para pagar mais aos bancos, o mesmo que Fernando Henrique fazia. A dívida vai chegar a R$ 1 trilhão. Cadê o crescimento, os investimentos, os empregos? Ele não fez nada. O que mudou com o governo Lula? Nada.

ISTOÉ – As favelas do Rio continuam submetidas à tirania do tráfico, que cria territórios fora do estado de direito. Isso tem solução?
Rosinha –
Entre as 26 capitais e o Distrito Federal, o Rio fica em 22º lugar em homicídios por 100 mil habitantes. Mas a mídia propaga muito mais a violência daqui. Acabamos de inaugurar o melhor centro de polícia do mundo, junto com a polícia de Israel, para atacar o crime organizado. Mas a segurança só vai melhorar quando o País crescer, gerar empregos e implantar um projeto de habitação. Se o governo reduzir em 1% os juros pagos aos bancos, de R$ 140 bilhões por ano, resolve essa carência em pouco tempo.

ISTOÉ – Recentemente circularam vários boatos sobre sua saúde, inclusive de que estaria com câncer ou leucemia. Como está?
Rosinha –
(Risos.) Eu tive um acidente de carro, fiz duas cirurgias e, como sou alérgica a alguns medicamentos, a recuperação foi lenta. Não tenho nenhum problema de saúde. Já me recuperei, graças a Deus, e estou pronta para a briga.