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OUSADIA O cineasta “matou” a estrela de Psicose no início do filme

Não existe nada para se comemorar em relação ao cineasta inglês Alfred Hitchcock – seu centenário de nascimento aconteceu em 1999 e os 25 anos de morte em 2005. Mas 2008 tem tudo para ser o ano Hitchcock, diretor de Janela indiscreta, Um corpo que cai e uma infinidade de obrasprimas. Estão sendo preparadas não apenas uma, mas duas biografias sobre ele. A mais aguardada, Alfred Hitchcock presents, de Ryan Murphy (criador do seriado Nip/Tuck), trará no papel do mestre do suspense o também britânico Anthony Hopkins, como ele um cavaleiro de rainha e dono do mesmo senso de humor. A outra produção, Number 13, terá o americano Dan Fogler, de Escola de idiotas, no papel do jovem Hitchcock. Pelo menos em um quesito Fogler leva vantagem em relação a Hopkins – é a cara do cineasta na juventude e já tem lá os seus quilinhos a mais.

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O ator americano vai interpretar Hitchcock aos 23 anos em Number 13

Hopkins lamentou pela silhueta cultivada em 70 anos: “Vou ter que engordar bastante”, disse. Ele tem assistido a muitas entrevistas de Hitchcock e já anda exibindo em coletivas o jeito de falar do diretor. Hopkins chegou a conhecê-lo em 1979, mas não tem boas recordações. “Foi um encontro rápido”, disse. “Ele estava sentado num lugar chamado Ma Maison. Eu estava lá também com meu agente. Ele me pareceu muito gordo, enorme, com aparência de doente.” De fato, alguns meses depois, Hitchcock morreria de problemas renais. Esses últimos anos, contudo, não estarão no filme estrelado pelo ator irlandês. A produção centra-se no período em que o diretor tinha 61 anos e filmava Psicose. Embora seja hoje um clássico, a história de Norman Bates, que vive com a mãe “embalsamada” numa mansão-motel decadente, deu muita dor de cabeça a Hitchcock.


Conheceu o diretor e vai vivê-lo no filme Alfred Hitchcock presents

Com o cronograma atrasado devido às negociações com a família, o novo filme vai mostrar uma faceta pouco conhecida do cineasta: a do artista inseguro, que vivia grandes impasses criativos. No caso de Psicose, várias ousadias foram testadas, como a decisão de matar a estrela logo no início da história. A cena mostra a atriz Janet Leigh sendo esfaqueada no banheiro por Anthony Perkins. Dura 45 segundos e foi feita com 70 tomadas de câmera. “Psicose é a minha experiência mais apaixonante de jogo com o público”, disse Hitchcock no famoso livro de entrevistas com François Truffaut. E é justamente a gênese desse estilo, que manipula a emoção do espectador, o assunto do outro filme, Number 13. Esse era também o nome do primeiro trabalho de Hitch, de 1922. Trata-se de uma obra inacabada, que, segundo o roteiro da nova produção, teria sido interrompida em razão do assassinato real do protagonista (Ernest Thesiger). A suspeita caiu sobre Hitchcock, que remontou a história, uma comédia no original, transformando- a em suspense. Nascia ali sua marca registrada. Verdade ou mentira, o que se sabe é que Hitchcock não gostava de falar de Number 13, um “filmeco de dois rolos” cujos copiões nunca foram encontrados.