FUSÃO CROMÁTICA SOBRE FOTO DE ZECA CALDEIRA/AG. ISTOÉUm sócio comprou uma fazenda para criar gado. Outro investiu no mercado de artes plásticas. O terceiro resolveu plantar uvas. “Chegamos numa fase que temos o direito de aproveitar a vida como quisermos. Não é?”, disse à ISTOÉ João Francisco Pereira de Meira, presidente do Vox Populi, o instituto de pesquisas de opinião que ganhou fama nacional ao elaborar a campanha de Fernando Collor à Presidência. Exatos 23 anos depois da sua fundação em Belo Horizonte, com cerca de 100 funcionários e um faturamento anual de R$ 20 milhões (que sobe 30% em anos eleitorais, como 2008), o Vox Populi vive uma crise administrativa.

“Estamos, na verdade, a procura de um presidente”, diz Chico Meira, como ele é conhecido no mercado. “Resolvemos profissionalizar a empresa modernizando a gestão corporativa.” Ou seja, os sócios fundadores do Vox Populi (o próprio Meira, o sociólogo Marcos Coimbra e Milton Marques) resolveram abrir mão da direção para gestores profissionais. “Aquela história de que quem engorda o gado é o olho do dono não existe mais. Mesmo porque ninguém nunca viu um fazendeiro dormir dentro do curral”, diz ele.

Competindo num setor da economia que movimenta cifras milionárias em mais de 220 empresas, 10% delas de capital internacional, o Instituto Vox Populi está entre os cinco maiores do ramo de pesquisa. Segundo concorrentes e amigos dos sócios ouvidos por ISTOÉ, o que está em curso no Vox Populi são mudanças um pouco mais profundas do que a mera contratação de um executivo. A reestruturação do Vox Populi passa por uma auditoria, que acontece exatamente em função de uma briga entre os três fundadores. “Cada um começou a fazer retiradas incríveis. Eles passaram a investir o dinheiro da firma em projetos pessoais”, revela um amigo que pediu que seu nome não fosse divulgado. “Nesse setor, não conheço empresa com esse tamanho que tenha auditório para 80 lugares, como o Vox”, diz um concorrente.

Esses gastos não levaram a empresa à bancarrota, mas foram relevantes, garantem os que conhecem a saúde financeira da empresa. O presidente do Vox Populi não nega que seus pares tenham optado por “curtir” um pouco mais a vida em interesses diversificados, mas isso, segundo ele, não tem nada a ver com separação ou crise. Chico Meira é o sócio que aprecia bons vinhos e tem um projeto de vinicultura em Diamantina, norte de Minas. Marcos Coimbra é o mais erudito, investe seus recursos em arte. Ele é um dos conselheiros do museu Inhotim, na região metropolitana de Belo Horizonte, referência em arte contemporânea no mundo. Milton Marques “resolveu reviver Guimarães Rosa”, conta seu sócio Meira. Foi ele quem comprou uma fazenda.

CRISTINA HORTA/ESTADO DE MINAS

RUÍDOS Coimbra longe da presidência do instituto

A mudança no comando tampouco deve se limitar a um ajuste de ordem financeira. Ela chega num momento em que o mercado vem sendo tomado por vários grupos multinacionais e o Vox precisa depender menos das campanhas políticas. No próximo ano, o Vox Populi pretende abrir sua primeira filial em São Paulo, que já responde por 40% dos negócios da empresa. Quanto à governança corporativa, Chico Meira dá outra razão para a contratação de um executivo profissional para administrar a empresa. “Não existe nepotismo aqui! Por isso a mão-de-obra tem de ser de fora”, diz.