ADAPTAÇÃO No War in Rio, o controle de favelas é disputado por traficantes e policiais do BOPE

No tabuleiro, o desenho de um mapa colorido indica os territórios a serem conquistados. Para tomar cada espaço, é preciso lançar os dados e seguir as instruções impressas em cartelas. A semelhança com o War, famoso jogo de estratégia, é enorme – e intencional. Mas a criação do designer carioca Fabio Lopez, 29 anos, tem o nome de War in Rio. No lugar de reproduzir o mapamúndi, como acontece no jogo comercializado pela Grow, o tabuleiro imita o mapa do Rio de Janeiro, com divisões que marcam as favelas da cidade. Os jogadores não têm à sua disposição exércitos, mas quadrilhas de traficantes, milicianos e policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que disputam o poder nos morros cariocas. “É a guerra que os moradores do Rio enfrentam todos os dias”, diz o designer. A intenção de Lopez foi protestar contra a escalada de crimes e o uso da violência como entretenimento. “Tive a idéia depois de ver o Tropa de elite”, explica. O que seria um manifesto visual, no entanto, foi levado a sério demais. Depois da divulgação, Lopez recebeu 1.300 emails, muitos deles de pessoas interessadas em comprar o jogo, além de cinco propostas de comercialização. “Minha intenção era chamar a atenção para um problema grave. Não quero ganhar dinheiro com isso”, afirma.

FOTOS: ALEXANDRE SANT’ANNA

PROTESTO O designer Lopez usou o mapa dos morros para criticar a violência

Os dirigentes da Grow preferiram não se pronunciar sobre o War in Rio. Ao contrário das autoridades. O secretário nacional de Segurança Pública, Antonio Carlos Biscaia, não entendeu a intenção de Lopez. “O Ministério Público deveria tomar providências para evitar a venda do jogo”, sugeriu. O secretário estadual de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, reprovou a manifestação: “Essa brincadeira não condiz com a gravidade dos problemas que enfrentamos.” O designer acredita que eles não receberam informações suficientes a respeito de seu protesto. No blog que criou para falar de sua invenção, ele escreveu que “usar de irreverência para discutir assuntos sérios é uma estratégia para atingir mais pessoas”. No alto do diário virtual, ele define sua versão do War como “um jogo manifesto e uma piada de mau gosto”.

Mas houve quem saísse em sua defesa. Para Tico Santa Cruz, líder da banda Detonautas e uma das vozes de protesto mais ativas do Rio, o jogo deveria ser comercializado no mundo inteiro. O músico sugeriu uma versão do Banco Imobiliário – outro tabuleiro popular –, “em que os jogadores possam negociar propinas para autoridades, compra de fronteiras, corrupção no Congresso”. Apesar de ter sido muito criticado, Lopez acha que o saldo da ação foi positivo: “Valeu a pena, rolou também muita discussão séria.” Desde o início, era isso o que ele queria.