chamada.jpg
PARCERIA
Medved, Lula, Hu Jintao e Singh querem integração

Brasília parou na quinta-feira 15. O Exército ocupou de assalto a Esplanada dos Ministérios com carros blindados, a Polícia Militar interditou o trânsito e até o Congresso foi sitiado. Todo esse aparato foi acionado para proteger os dirigentes dos BRICs, os quatro países (Brasil, Rússia, Índia e China) que hoje representam a grande força emergente da economia mundial. Reunidos para a sua 2ª Cúpula, os presidentes das quatro nações deram sinais de que estão cada vez mais próximos de ganhar o status de bloco econômico. Os BRICs não constituem propriamente uma zona de comércio especial como o Mercosul, o Nafta ou a zona do euro porque seus países não pertencem a uma área de livre comércio nem possuem regras comuns. Mas ao caminhar unidos, firmar acordos e buscar maior integração econômica, os quatro maiores países emergentes sinalizam para o mundo que podem se comportar como bloco quando a ocasião pedir e representam, no mínimo, uma grande aliança política.  “Estamos dando força ao nosso diálogo estratégico”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao assinar 11 acordos com a China. “Esses acordos correspondem aos interesses bilaterais. Vão na direção mais abrangente, coordenada e harmoniosa”, acrescentou Hu Jintao, presidente chinês. O pacote de tratados assinados por Lula e Hu Jintao prevê investimentos de peso no setor de infraestrutura no Brasil e já vem sendo chamado internamente de PAC chinês, em referência ao Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal.

O maior entrosamento dos BRICs reflete-se diretamente nas relações de comércio. Em fevereiro, a China passou a ser o terceiro país que mais investe no setor produtivo brasileiro, atrás apenas dos Estados Unidos e de Bermudas, que é um entreposto financeiro. A nova posição é bastante significativa, principalmente considerando que, até o ano passado, os chineses nem sequer apareciam no levantamento de Investimento Estrangeiro Direto feito pelo Banco Central. O intercâmbio comercial com a Índia cresceu 20,1%, em 2009, puxado pelo aumento das exportações de açúcar, de 3.000%. A Índia tornou- se a nona maior compradora de produtos brasileiros em 2009 e a 14ª maior fornecedora para o Brasil. Com a Rússia, o Brasil tenta vencer uma dificuldade histórica e diversificar sua pauta comercial, predominantemente de commodities. “O fluxo comercial entre os quatro países foi de US$ 48 bilhões em meio à crise. Este ano será de no mínimo US$ 60 bilhões. Esse crescimento de mais de US$ 10 bilhões é muito expressivo. Se fôssemos olhar alguns anos atrás, isso era quase o total do nosso comércio exterior”, explica o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

G_Intercambio-1.jpg

Na avaliação de especialistas, o Brasil só tem a ganhar ao estimular o fortalecimento desse grupo. Se, há dez anos, a soma das exportações para Rússia, Índia e China não chegava a US$ 2 bilhões, no ano passado alcançou US$ 26,4 bilhões. Há potencial para dobrar rapidamente e para o Brasil é fundamental aumentar suas exportações. “O aumento das exportações leva a um crescimento do saldo comercial”, diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. O economista sênior do Banco Santander, Cristiano Souza lembra que a China é um mercado garantido para os produtos brasileiros. “Eles fazem e vendem sapato, tecido e roupa. Mas precisam de ferro, petróleo e alimentos. E nós somos bons nisso. Se a China mantiver a taxa de emprego em crescimento, ela vai continuar comprando do Brasil”, diz Souza.

“O fluxo comercial entre os Brics vai crescer 20% e chegar a US$ 60 bilhões em 2010”
Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores

Entusiasmado com o potencial dos BRICs, o Itamaraty aproveitou para reunir os empresários dos quatro países e da África do Sul – pois paralelamente à reunião dos BRICs foi realizada a cúpula IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) – em quatro painéis diferentes: energia, tecnologia da informação, infraestrutura e agronegócios. “Selecionamos os setores em que existem mais sinergias potenciais entre os cinco países tanto para aumentar o comércio como para promover investimentos”, explica Norton Rapesta, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty. O vice-presidente da Associação Chinesa de Estudos Latino- Americanos, Xu Schicheng, passou a defender a tese de que os BRICs se institucionalizem de uma vez por todas, criando uma secretaria- geral, com reuniões periódicas entre os presidentes e os ministros de Estado. Mas, em seus planos, também devem entrar outros dois países emergentes: México e África do Sul. Mesmo sem ser um bloco oficial, os interesses dos BRICs já ultrapassaram a economia. Numa espécie de desafio à liderança dos Estados Unidos, os BRICs, na reunião de Brasília, se mostraram solidários ao Irã. O presidente Lula defendeu a ideia de que ainda é possível negociar com o Irã um acordo sobre seu programa nuclear. Os EUA pressionam a ONU para ampliar as sanções ao governo iraniano, com o argumento de que o programa nuclear visa ao desenvolvimento de armas atômicas. “Não houve pedido (por parte do Brasil). Houve troca de ideias sobre como está indo o processo e sobre qual é a melhor maneira de encontrar uma solução pacífica e negociada. A nossa impressão é de que a visão deles (China e Índia) sobre a eficácia das sanções é muito discutível”, afirmou o chanceler Celso Amorim. Mais interessado em fazer parte desse novo bloco do que preocupado com a reação dos EUA, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, também fez coro a favor de um diálogo com o Irã. Zuma disse ao presidente Lula que é contra as sanções defendidas por Barack Obama. Pelo visto, os BRICs estão unidos e dispostos a atropelar qualquer concorrente, mesmo os mais temíveis e poderosos.