Ganhar a vida no ar era o sonho do paulista Sandro Dias, 32 anos. “Eu queria ser piloto de avião”, diz ele, que chegou a fazer um curso para voar de helicóptero. Desde os 11 anos, porém, um shape sobre rodinhas é sua passagem para o céu. Foi com o skate sob os pés que ele alcançou o topo do esporte em termos de performance e faturamento. Mineirinho, apelido que herdou do pai, acaba de se tornar pentacampeão mundial da modalidade vertical, e fez seu pé-de-meia voando como na foto ao lado. Este ano, ao conquistar três das sete etapas do circuito mundial, ganhou US$ 30 mil. Mais: somente de um dos seus sete patrocinadores, recebe R$ 120 mil por ano. Dono de uma casa na Califórnia, um apartamento em Santo André (SP), sua cidade natal, investimentos nas bolsas de valores americana e brasileira e sete passaportes cheios de carimbos de viagens, Sandro fechará o ano com 30 eventos. É assim desde os 13 anos, quando viajou sozinho pela primeira vez para competir sob a bênção do pai, um empresário do ramo de mineração. Hoje, carrega na bagagem 20 viagens para a Europa, seis para a China, três para a Coréia e por aí vai. “Passo em casa (na Califórnia) só para trocar de mala”, conta.

Não só isso. O ás do skate é bom também com uma vassoura na mão. Sua terapia é limpar a casa. “Lavo louça, passo pano no chão, limpo janelas. Fico o ano inteiro sozinho, é uma maneira de curtir meu lar.” Os amigos e a namorada, que mora no Brasil, gostam mesmo é do frango de panela que Sandro prepara na cozinha. No esporte, suas marcas registradas são a manobra 900º (duas voltas e meia sobre o próprio eixo, no ar) – ele foi o primeiro a realizá-la em uma competição – e o bom humor. “O Mineirinho voa muito, é o mais radical”, atesta o colega Fábio Sleiman. “Ele é competitivo demais, é difícil superálo. Mas, ganhando ou perdendo, está sempre sorrindo”, diz o ex-presidente da Confederação Brasileira de Skate, Alexandre Vianna.

Com a imagem em alta, Sandro montou uma empresa que organiza eventos de olho em um mercado que não pára de crescer. O Brasil é o segundo produtor e terceiro consumidor mundial de produtos de skate. “O estilo de um skatista é capaz de servir de inspiração para nove pessoas”, diz Ingrid Abdo, gerente de categoria da Nike. De olho nesse filão, que fatura R$ 250 milhões por ano, a multinacional americana estendeu a linha especializada Nike SB (Skateboarding), que existe nos Estados Unidos desde 2001, para o Brasil, em 2005. A Adidas também criou uma coleção para skatistas este ano.

Além de comercializar calçados, roupas, mochilas e meias, a Nike paga um salário de cerca de R$ 5 mil a três skatistas brasileiros como forma de patrocínio. O brasileiro Bob Burnquist, além de ser o pioneiro na conquista de um campeonato internacional em 1995 e um gênio sobre o shape, é top no quesito negócios: nos Estados Unidos, fez filmes de skate, é personagem de videogame e garotopropaganda da Toyota. Em 2006, um levantamento mostrou que em apenas uma ação (o campeonato Rio Vert Jam, em 2006), o nome Bob Burnquist gerou uma exposição de mídia de R$ 11 milhões. Sandro não chegou nesse patamar financeiro. Mas, na categoria fama, foi o primeiro skatista a ser recebido no Palácio do Planalto por um presidente do Brasil (Lula, em 2003) e anda voando alto mundo afora.DIVULGAÇÃO

NO CÉU DE PARIS Sandro venceu três das sete etapas do circuito mundial e recebeu US$ 10 mil a cada vitória