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RARIDADE A valiosa “trufa do século”: este ano o preço subiu 70% em relação a 2006Seiscentos mil reais.

Esse foi o lance vencedor dado pela maior trufa branca encontrada em pelo menos 50 anos. A peça de quase 1,5 kg, que despertou a cobiça até de celebridades, como a cantora Madonna, a atriz Elizabeth Hurley e o chef Jamie Oliver, foi arrematada pelo bilionário de Hong Kong Stanley Ho, conhecido como o Rei das Apostas e um dos homens mais ricos da Ásia. Realizado no domingo 2 no hotel Gran Lisboa, em Macau, com direito a um pomposo jantar black-tie, o leilão beneficente teve a participação via satélite de pretendentes acomodados no Palazzo Medici, em Florença, e no restaurante Refettorio, em Londres.

Iguarias das mais valorizadas na alta gastronomia, as trufas brancas sempre tiveram preços estratosféricos, mas atingiram valores inéditos nesta temporada. A falta de chuvas no início do verão europeu fez com que o produto, um fungo subterrâneo encontrado apenas na Itália e em países do Leste Europeu, ficasse escasso. Em novembro, na tradicional feira de Alba, na Itália – uma espécie de meca das trufas brancas –, o preço do quilo ultrapassou os 6 mil euros (aproximadamente R$ 16 mil), um aumento de 70% em relação a 2006. A partir de certo tamanho, o peso passa a ser apenas referência e o preço fica sujeito à oferta, como no caso da “trufa do século”, encontrada nos bosques de Palaia, na região da Toscana, pelo cão mestiço Rocco e seu dono, Cristiano Savini, cuja família vem “caçando” trufas brancas há quatro gerações.

“O que torna a trufa branca tão desejada é a sua sazonalidade. Só há tartufos brancos uma vez por ano no mundo”, explica Salvatore Loi, chef do Fasano. No festival anual do exclusivo restaurante paulistano, um prato principal com trufas brancas custava R$ 470, e uma entrada, R$ 330. Delicadas, elas têm que ser consumidas no máximo duas semanas após serem colhidas. Em 2004, uma trufa branca de 700 gramas foi vendida por aproximadamente R$ 100 mil para depois apodrecer no cofre de um requintado restaurante londrino.

Mauro Maia, chef do restaurante Supra, em São Paulo, estava na Itália quando a supertrufa foi encontrada na quinta-feira 22. “No dia seguinte, meu fornecedor achou uma de 860 gramas”, conta. Receoso com os altos valores, ele preferiu ser comedido nas compras que fez para o festival de trufas brancas do Supra, encerrado no domingo 2. Está arrependido: o sucesso foi tamanho que o evento durou uma semana a menos do que o previsto. “A trufa branca não pode ir ao fogo de jeito nenhum. Ela é ralada em cima do prato, na frente do cliente, ao final de tudo”, conta Maia, que indica um simplório ovo frito como acompanhamento ideal para a iguaria. Detalhe: no festival do Supra, o prato saía pela bagatela de R$ 227. “Mas eram dois ovos – e vinham com um brioche”, ressalta, com bom humor.

MURILLO CONSTANTINO/AG. ISTOÉ

As primas pobres
Também chamada de diamante branco, a trufa branca é o mais raro e caro tipo de trufa, mas não o único. Sem o aroma envolvente e o sabor extremamente sofisticado da sua prima rica, a trufa negra, encontrada principalmente na França, Espanha e Itália, é iguaria de destaque em cardápios de restaurantes de alta gastronomia. Seu preço bruto, no entanto, não chega a 15% do valor da trufa branca. Há ainda outros tipos de trufas menos famosas e saborosas, como a trufa chinesa e a trufa de verão.