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FLORESTA DO PANAMÁ Ela já é de segunda geração e sua biodiversidade se manteve

Consenso entre a maioria dos ambientalistas: durante a década de 1990 quase 8% das florestas tropicais em todo o mundo foram desmatadas. Isso significa que, entre 1990 e 2000, destruíram-se anualmente 15 milhões de hectares – ou 30 campos de futebol a cada minuto. Apontado como uma das principais causas do aquecimento global, o desmatamento tornou-se o vilão-chefe da questão. Essa tese, em parte, está sendo contestada pelo biólogo americano Joseph Wright, do Instituto Smithsonian. É claro que ele não defende o desmatamento nem nega a sua influência no aquecimento do planeta. Mas, segundo Wright, as florestas secundárias que vão renascendo em terras agrícolas devastadas podem substituir com a mesma eficácia a mata original – ou seja, não é preciso tanto desespero.

A polêmica está armada, no momento em que a ONU se prepara para lançar o mapa mundial das florestas de segunda geração. Wright é autor do estudo O futuro das espécies da floresta tropical, no qual explica que o abandono de áreas provoca naturalmente o nascimento de nova geração de vegetação que pode ajudar a combater as mudanças climáticas e abrigar espécies em extinção. A queda na produção de alimentos (causada pelo declínio no crescimento populacional do planeta) fará com que sejam esquecidas cada vez mais terras, futuros palcos de matas que virão tão ricas em biodiversidade como suas antecessoras. O pesquisador explica que a taxa de cobertura entre os dias atuais e 2030 não mudará. Mais: para que a produtividade se repita, basta deixar o terreno intocável por um período médio de 30 anos.

Para ilustrar a sua teoria, Wright analisou a floresta tropical do Panamá – antiga terra usada para o cultivo de manga e banana e que hoje é uma região repleta de árvores, macacos, lagartos e insetos. "Essa não é uma verdadeira floresta tropical?", indaga ele. "Os biólogos estavam agindo como se apenas a floresta original tivesse valor de conservação, o que está errado." A teoria é controversa. Não há dúvida de que as matas secundárias absorvem CO2 da atmosfera e contribuem para frear o aquecimento global.

Aqui, ponto para Wright. Mas e a biodiversidade? "Uma floresta secundária nunca substituirá uma primária", disse à ISTOÉ Thais Kasecker, analista de biodiversidade da ONG Conservação Internacional. "Um pasto abandonado não vai passar pelos mesmos processos naturais que uma floresta passou até chegar ao seu clímax. E sua biodiversidade nem se compara à de uma vegetação que passou milhares de anos evoluindo." Acima das divergências, o que está em jogo é a sobrevivência do planeta. Se as previsões de Wright para 2030 se concretizarem e as matas secundárias cumprirem o papel das originais, todas as espécies estarão bem. Mas, enquanto esse sinal verde não vem, o bom senso manda que cuidemos com racionalidade de nossas florestas.

"Os biólogos estavam agindo como se apenas a floresta original tivesse valor de conservação. O que está errado"