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O jovem Marciano Menezes da Silva, 16 anos, escreveu seu nome na história da medicina brasileira. Ele é a primeira pessoa do País a ser curada da raiva – doença gravíssima transmitida ao homem por animais. Na quarta-feira 4, ele deixou a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Osvaldo Cruz, no Recife, onde estava internado desde outubro. Foi transferido para a enfermaria e, segundo os médicos, não apresentava mais nenhum vestígio da presença do vírus causador da enfermidade.

No mundo, ele é o terceiro a ser curado, mas apenas o segundo a sobreviver. Antes dele, houve a recuperação de uma garota americana, em 2004, e de um rapaz colombiano, dois anos depois. Porém, somente a menina está viva, levando uma rotina normal nos Estados Unidos. A raiva é uma infecção viral que pode afetar o sistema nervoso central. Até pouco tempo atrás, quando isso ocorria, era fatal. Daí a necessidade de vacinar-se e tomar o soro antirrábico o mais rapidamente possível após ter tido contato com a saliva de animais que podem ser transmissores. Na cidade, o mais comum é o cão. No campo, o morcego. Esse cuidado impede que o vírus tenha tempo de chegar ao cérebro, por exemplo, onde não poderia mais ser contido.

O que mudou essa sentença foi a criação em 2004, pelo americano Rodney Willoughby, de um tratamento que consiste no uso de altas doses de sedativos, um remédio utilizado contra o mal de Parkinson (amantadina) e um terceiro, destinado a melhorar o metabolismo dos neurônios (biopterina). A adoção desta terapia foi o que salvou a vida de Marciano. "Conhecia este protocolo", lembra o médico Gustavo Trindade, responsável pelo caso. "Quando Marciano chegou, já com o cérebro comprometido, resolvemos aplicá-lo", diz. "Felizmente, ele respondeu muito bem." O desafio daqui em diante é fazer com que o rapaz recupere os movimentos das pernas e dos braços, perdidos por causa da doença.

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