Barbie deu uma caída aos 50 anos – que serão completados dia 9 de março. Não, ela não está com flacidez, celulite ou rugas. Por ser uma boneca, a cinquentona continua com aparência de 20. O que despencou foram suas vendas. Pelo sétimo ano consecutivo, a Barbie enfeita menos quartos de meninas mundo afora. A Mattel, fabricante do brinquedo, registrou queda de 9% nas vendas da boneca em 2008. Só no último trimestre do ano, a retração foi de 21%. Barbie é, hoje, uma senhora com um belo passado, um presente com tendência decadente e um futuro incerto. Acusada de incentivar um padrão de beleza inatingível, ela amarga a concorrência de bonecas menos idealizadas, como a Bratz, sua maior rival. Bratz também imita as formas de uma jovem, mas não é tão cheia de curvas e nem tão burguesinha. Não é por isso, certamente, que a boneca perde espaço. Talvez a resposta seja mais prosaica: a Barbie simplesmente não soube envelhecer.

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Boneca com a roupa da primeira Barbie: consumismo e símbolo de um padrão de beleza único

Uma das razões que fizeram seu sucesso foi justamente o oposto: sua capacidade de incorporar as mudanças da sociedade e se manter atual. Agora, porém, está atrasada. Continua simbolizando um padrão de beleza que o mundo globalizado contradiz, argumentam seus críticos, além de manter um estilo de vida baseado no consumismo, pregação fora de moda em tempos de sustentabilidade e interesse coletivo. "A Barbie é um modelo tirânico, exigente quanto às medidas do corpo perfeito, algo que, nas últimas décadas, se tornou obrigatório para que a menina seja bemsucedida", afirma Paula Sibilia, professora de pós-graduação em comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF).

É justamente por causa de sua imagem que a boneca enfrenta, agora, o Ministério Público de São Paulo. A ONG Instituto Alana acaba de entrar com uma representação no MP contra a Mattel alegando que o site do brinquedo incentiva o consumismo. "A Barbie acaba ditando as regras da brincadeira e assim vira o jogo contra a criança, que recebe um duplo comando. Deve ser magrinha como a boneca, mas também comprar as guloseimas anunciadas na tevê", aponta a psicóloga Laís Pereira, do Instituto.

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Márcia Penna e a filha Anita: a menina prefere brincar com as bonecas que elas fazem juntas

Algumas mães buscam amortizar essa propaganda na imaginação de suas filhas. Márcia Penna, 47 anos, professora do colégio Oga Mitá, no Rio, ensina à sua Anita, de 4, a fazer os próprios brinquedos. "Minha filha já ganhou Barbie de presente, mas ela prefere brincar com as outras bonecas que fazemos", diz Márcia. Para ela, isso é uma bênção: "É brincando que as crianças formam sua visão de mundo. É importante incentivar a criatividade dela."

Hoje a Mattel briga na Justiça contra a MGA Entertainment, fabricante da Bratz, e argumenta que tem direitos sobre a boneca porque ela foi criada por um ex-funcionário da Mattel. A fabricante esquece, oportunamente, a polêmica que alimenta o nascimento da Barbie. A professora Fernanda Theodoro Roveri, que fez tese de mestrado pela Unicamp sobre a boneca, fala de sua conturbada origem. Contrariando a versão da Mattel de que o produto teria sido criado pela americana Ruth Handler, Fernanda diz que o livro Forever Barbie: The unauthorized biography of a real doll (Para sempre Barbie: a biografia nãoautorizada de uma boneca real), da americana MG Lord, afirma que a boneca é cópia da alemã Lilli. Ruth Handler a teria conhecido em uma viagem ao país. Personagem de quadrinhos do jornal alemão Bild, Lilli era vendida para homens em tabacarias. Ruth promoveu o que a professora chama de desvulgarização da boneca e botou-a na trilha do sucesso. Agora, em crise, talvez seja a hora de chamar alguém capaz de promover um lifting na cinquentona.

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