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A montagem paralela é uma técnica cinematográfica, também conhecida como montagem dialética ou montagem intelectual, que consiste na edição de imagens, para a transmissão de uma mensagem, mas sem o uso das palavras. Esse jogo de associações para a construção de novos significados não é um privilégio apenas do cinema. Freud, pai da psicanálise, a respeito da linguagem dos sonhos, já nos dizia da montagem mental de imagens e experiências oníricas como mensagens de nossa realidade inconsciente. A montagem de novos significados e conceitos através de imagens e objetos do cotidiano também se deu no mundo das artes plásticas, com as assemblages dadaístas e os ready-mades de Marcel Duchamp. A exposição “Corte”, de Thiago Honório, bebe da mesma fonte, ao usar sobreposição de objetos para investigar o ato da montagem no mundo das artes. Em um exercício metalinguístico, o artista impõe dois níveis de questionamento sobre as estruturas expositivas do objeto de arte, colocando em dúvida tanto o pedestal como suporte quanto o próprio ato de legitimação do olhar dentro do espaço expositivo. Para isso, cria objetos híbridos, metade animais, metade objetos, que tensionam os significados do ato de criar e a criação. Um exemplo é o trabalho “Visà- Vis” (foto), duas lupas cujos cabos são dois chifres de boi. Dispostos em um pedestal-espelho, os objetos confrontam suas funções convencionais de refletir e ampliar: as mesclas entre o espelho e a lente de aumento deformam a percepção do olhar. Segundo o texto crítico de Rodrigo Moura, os trabalhos de Thiago Honório “nos remetem à clássica cena de ‘Psicose’, em que vemos Lila se aproximar da casa – que também olha –, num virtuoso lance de montagem entre câmeras subjetivas e objetivas”. Em suma, as obras da exposição “Corte” apresentam não apenas um questionamento sobre o ato da montagem como construção criativa, mas também como um jogo entre o ato de ver e olhar.