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FORÇA TOTAL
Logo depois de assumirem o comando das duas Casas pela terceira vez, Sarney (à esq.) e Temer começaram a trabalhar pela união do partido
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Com as vitórias de Michel Temer para o comando da Câmara dos Deputados e de José Sarney para o Senado Federal, o PMDB consolidou-se como o maior partido do País e ampliou seu cacife para as eleições presidenciais de 2010. Desde que Sarney ocupou a Presidência da República (1985-1990), a legenda não detinha tanto poder. O peso político do PMDB pode ser medido pelo tamanho de sua máquina partidária. Não bastasse ter conquistado, na última semana, o direito de controlar o Congresso Nacional pelos próximos dois anos e ocupar seis ministérios (Saúde, Integração Nacional, Agricultura, Defesa, Comunicações e Minas e Energia), o partido foi o que mais elegeu prefeitos em 2008 e fez sete governadores em 2006. Com esses trunfos na mão, a próxima cartada do partido será bem mais ousada: lançar candidatura própria a presidente da República em 2010.

O projeto foi confiado ao deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), atual presidente da Fundação Ulysses Guimarães, entidade ligada ao partido. "Na base do PMDB, o sentimento é pela candidatura própria. Estamos preparados. Por que não? Temos mais infraestrutura municipal e estadual do que todos os partidos", justifica Padilha. Favorito para ocupar a presidência do PMDB no lugar de Michel Temer, o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) defende que, se o PT ainda não tornou oficial a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o PSDB ainda diverge entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG ), o PMDB pode muito bem apostar na cabeça de chapa. "Por que temos que pensar em ser a noiva das eleições se podemos ser o noivo?", questiona. O voo solo ao Planalto também é defendido por figuras tradicionais como o senador Pedro Simon (RS). Padilha explica que o primeiro passo é aprovar a tese da candidatura própria no congresso do PMDB programado para junho. Para alcançar o objetivo, o deputado gaúcho trabalha em três frentes: investe na qualificação política da militância peemedebista, defende entre as lideranças o raciocínio de que unido o PMDB será imbatível e propõe a elaboração de um projeto para o País. "Temos muitos nomes, o que falta é uma proposta de governo para o Brasil. Precisamos de um projeto para dialogar com a sociedade já."

FLERTE Aécio Neves é o nome preferido dos líderes do partido para ser o cabeça na chapa da disputa presidencial

O nome que acalenta os sonhos de importantes líderes peemedebistas para encabeçar o projeto é o de Aécio Neves. Candidato assumido à Presidência, o mineiro briga internamente pela realização das prévias tucanas, nas quais aposta que sairá escolhido candidato do PSDB. Mas a ala paulista do partido trabalha por uma escolha de cúpula, o que favoreceria a candidatura de Serra. Daí, o flerte de Aécio com os peemedebistas. A avaliação no partido é a de que Aécio e o PMDB, juntos, seriam imbatíveis. "O jovem governador Aécio Neves é um dos mais brilhantes políticos de sua geração, com um grande governo que o credencia à Presidência da República. O PMDB o vê com grande simpatia, e com sua entrada no páreo da disputa presidencial podem ocorrer modificações muito profundas", disse Sarney em entrevista à ISTOÉ, ao responder se o PMDB mantém as portas abertas para Aécio, caso ele queira se filiar ao partido para concorrer ao Planalto.

Um obstáculo à ida de Aécio para o PMDB é a dificuldade de o governador mineiro deixar o PSDB, partido no qual pavimentou sua trajetória política. Outro empecilho é o sentimento de insegurança que a legenda provoca, devido à já conhecida divisão entre suas diversas alas. Parcela considerável das lideranças peemedebistas ainda mantém a aposta na divisão do partido, como forma de a legenda continuar com um pé em cada canoa para se eternizar no poder – estratégia levada a cabo nas últimas duas décadas. Esse é um fator que joga contra a tese da candidatura própria ao Planalto. "Se não houver unidade, o projeto nacional de poder pode ficar comprometido", admite Padilha. Por exemplo, hoje, ao mesmo tempo que setores do partido defendem um nome próprio para concorrer à Presidência em 2010, há os que preferem marchar ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – esta tese hoje ainda é majoritária – e há aqueles que já acenam com o apoio ao PSDB de Serra. O ex-governador do Rio e atual vice-presidente da Caixa, Moreira Franco, cabo eleitoral de Temer na Câmara, defende que o PMDB mantenha a aliança com Lula. O ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, por sua vez, é favorável a um acordo com Serra. "Não é difícil o PMDB sair do Lula. O quadro é bom para a ação em torno do Serra", diz Quércia.

DIVISÃO Enquanto uns querem continuar com o PT, outros são favoráveis a um acordo com o tucano Serra

Mas um entendimento entre as forças hoje antagônicas do PMDB está sendo costurado para que o partido chegue ainda mais forte em 2010. Na próxima semana, Sarney receberá em sua residência em Brasília representantes da Câmara e do Senado. A reunião foi acertada entre os dois presidentes. A intenção é debelar as divergências com caciques das duas alas. "Quem apostar que o PMDB ficará dividido em 2010, vai errar", disse Henrique Eduardo Alves (RN), líder na Câmara. Mas é bem verdade que a retrospectiva histórica do PMDB não recomenda vaticínios tão firmes. Em 1989, na primeira eleição direta depois da redemocratização, o PMDB abandonou ao relento o candidato Ulysses Guimarães, o comandante da Constituinte, personagem mais importante da história do partido, porque ele não tinha chances de chegar ao segundo turno. Em 2002, o partido indicou a deputada Rita Camata como vice de Serra. Mesmo assim, governadores como o paranaense Roberto Requião não se constrangeram em subir no palanque de Lula. Em 2006, apesar de aquinhoado no Ministério de Lula, o partido rachou entre o petista e Geraldo Alckmin (PSDB). Agora, porém, o PMDB saiu tão fortalecido das eleições no Congresso que se considera autorizado a sonhar com o voo mais ambicioso: sua própria unidade.