Ancorado numa bilheteria de mais de quatro milhões de espectadores com o filme Se eu fosse você 2, Daniel Filho tornou-se o cineasta brasileiro de maior sucesso nos últimos anos.

Ancorado numa bilheteria de mais de quatro milhões de espectadores com o filme Se eu fosse você 2, Daniel Filho tornou-se o cineasta brasileiro de maior sucesso nos últimos anos. Se a isso se somar o primeiro episódio, são quase oito milhões de ingressos vendidos. Apesar do sucesso de bilheteria, Daniel é cobrado: "Dizem que tenho uma narrativa televisiva." A crítica se deve ao fato de ele ser ex-diretor da Rede Globo, emissora que ajudou a criar e cujo padrão de qualidade teve sua participação. "Eu trago sobre a minha cabeça uma coisa que se chama plim plim", diz Daniel. Mas os tempos de tevê ficaram para trás e hoje ele raramente para diante da telinha – e, quando isso acontece, não gosta do que vê. De seus tempos de comandante na Globo, resta no ar apenas o Fantástico, que ele critica e considera longe de ser "o show da vida" de antes. Aos 71 anos, Daniel Filho acaba de se separar de sua quarta mulher, Márcia Couto, com quem foi casado por mais de duas décadas. Suas outras ex-mulheres são as atrizes Dorinha Duval, Betty Faria e Regina Duarte. Tem dois filhos (um deles é a atriz Carla Daniel) e três netos. Do estilo rigoroso e por vezes irascível do qual muitos atores reclamavam pelos corredores da Globo, pouca coisa sobrou. Daniel é hoje um homem que esbanja bom humor. Trabalha na sua própria produtora, a Lereby, e continua no cargo de diretor artístico da Globo Filmes.

ISTOÉ – O sr. sente que seu trabalho é reconhecido?
Daniel Filho – A crítica cinematográfica realmente não é muito gentil comigo. Há um pé atrás, um preconceito por eu ser uma pessoa oriunda da televisão. Dizem que tudo o que faço é televisivo, dizem que a minha narrativa é claudicante, pedestre, ou qualquer coisa assim, por ter o estilo da tevê. Não entendo o que isso quer dizer. Outros dizem que faço sempre o mesmo gênero. Juro que pensava que estava fazendo obras diferentes.

ISTOÉ – A que atribui esse tratamento?
Daniel – Preconceito. Tenho sobre a minha cabeça uma coisa que se chama plim plim. Os anos e anos em que estive na Globo me marcaram. Sou um dos fundadores da emissora, o criador do seu padrão de qualidade. Isso é uma coisa que me acompanha. Outro dia estava andando na rua e uma senhora veio reclamar comigo da novela. Tentei dizer para ela que não tenho nada a ver com aquilo. Mas ela não me ouvia, me dizia o que eu deveria fazer com a trama. Tentei dizer que não estou na tevê há nove anos. Ela não me ouviu. Então, para me livrar da situação, lhe disse: "Ok, vou fazer o que a senhora está dizendo." E fui embora.

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"Juntei pela primeira vez nas telas Tony Ramos e Glória Pires.
Não basta ter bons atores. É preciso química"

ISTOÉ – O sr. vê televisão?
Daniel – O cinema foi me ocupando e tenho de ver muitos filmes. Não tenho visto tevê. Assisto a alguns trechos de programas, novelas, seriados. Via um pouco mais no ano passado.

ISTOÉ – Gostou do que viu?
Daniel – Não. As tramas têm muitos atores e personagens e, para um telespectador eventual como eu, fica difícil assistir e saber do que se trata. Vejo e me pergunto: "Essa pessoa está chateada por qual motivo?" Antes as novelas eram mais concisas, e uma das coisas que eu fazia como noveleiro era estabelecer que em todos os capítulos se deveria laçar quem estava assistindo àquilo pela primeira vez. Era uma lei da novela. Esse excessivo número de personagens talvez se deva ao fato de elas serem muito longas. Não é fácil fazer 220 capítulos com uma hora de duração.

ISTOÉ – A tevê não prende sua atenção?
Daniel – A última vez que me vi sentado e fiquei um tempo diante da telinha foi por causa de um programa muito ruim. Não vou dizer qual. Fiquei tão abismado diante do que estava assistindo, era tão mal representado, inverossímil, que eu fiquei paralisado.

Isso é um tipo de fascínio típico da televisão. No cinema, a pessoa levanta e vai embora. No caso da tevê, a pessoa fica assistindo. Minha mãe disse uma vez uma coisa muito engraçada.

Ela acompanhava uma novela da Rede Manchete, e dizia: "É muito ruim." Um dia eu lhe perguntei: "Mas mamãe, se é ruim, por que a senhora assiste?" Ela respondeu: "Quero ver até onde eles vão chegar."

ISTOÉ – O que acha do Big Brother?
Daniel – Aquilo é um circo humano. As pessoas ganham dinheiro, se tornam atrizes, saem peladas numa revista, são convidadas para baile de debutante. Dentro do que se propõe é benfeito, mas não deixa de ser um circo humano. Isso existe desde tempos antigos, tinha o Coliseu, onde as pessoas eram entregues aos leões. Agora é gente comendo gente.

ISTOÉ – O ibope da Rede Globo tem di minuído paulatinamente. Foi ela que piorou ou as emissoras concorrentes melhoraram?
Daniel – As concorrentes não melhoraram. Tenho muitos amigos na Globo, mas sou obrigado a dizer que ela está precisando dar uma mexida na grade de programação. Não estou lá e é fácil falar como crítico, sem saber as dificuldades pelas quais estão passando. Apareceu o João Emanuel Carneiro e fez uma novela policialesca (A favorita), mas sem uma coisa vital para esse gênero, que é amor. Quem manda na diversão é a mulher e ela gosta de ver beijo na boca.

ISTOÉ – Mas para que o beijo na boca dê audiência é preciso que o par tenha carisma. O sr. vê atores com essa qualidade?
Daniel – Tem pares aí, sim, mas pode ser que as pessoas não tenham encontrado a química. Quando coloquei Glória Pires e Tony Ramos para estrelar o filme Se eu fosse você, era a primeira vez que trabalhavam juntos. Eu não sabia. Não é só pelos atores, há também o cozinheiro, que deve saber juntar os ingredientes. Há atores bem competentes por aí; agora a junção deles nos papéis depende dos cozinheiros.

ISTOÉ – Tem visto os programas de humor?
Daniel – Dos humorísticos vi o Toma lá, dá cá. Alguns estavam bons, outros nem tanto, era muito variável, dependia muito das circunstâncias.

O Casseta & Planeta tem sempre uma piada ou uma sacada boa. A grande família não vejo há tempo, mas quando assisti achei o Pedro Cardoso sensacional.

ISTOÉ – Um dos únicos programas criados na sua época que continua no ar é o Fantástico. O que acha dele?
Daniel – Parei de ver o Fantástico porque ele deixou de ser o "show da vida". Sempre que sentava para assistir era bicho, bicho, bicho. Melhor ver o National Geographic. Ou, então, era fulano que viajou para não sei onde, para fazer determinada matéria, ou o repórter que voou de balão. Não é mais aquela revista eletrônica que criamos tempos atrás.

ISTOÉ – O sr. teria alguma sugestão para a tevê brasileira?
Daniel – Na década de 1980, desbanquei seriados americanos famosos como Kojak, Havaí 5-0 e Baretta com os seriados brasileiros. Plantão de polícia, Carga pesada e Malu mulher fizeram muito sucesso. Tanto que os enlatados estrangeiros saíram do ar.

Não gosto dos seriados da tevê fechada dos quais falam tantas maravilhas. Vi Sex and the city e achei uma bobagem. Dos programas desse tipo que vi ultimamente o mais interessante foi aquele 24 horas, uma boa sacada. Acho que há espaço para séries brasileiras.

ISTOÉ – O alto custo de produção é um problema?
Daniel – Espero que essas novas leis de incentivo à cultura ajudem a motivar a criação de novos seriados brasileiros. Também há outros caminhos, outras ideias que podem ser aproveitadas. O programa Cilada, do Bruno Mazzeo, é uma boa ideia e bem realizada. Além disso, o orçamento é baratinho.

ISTOÉ – Tem algum programa que o sr. se arrepende de ter criado?
Daniel – Criamos um programa que tiramos do ar quatro meses depois da estreia porque nos matava de vergonha. Era o Linha direta. Tratava de casos de polícia, aparição de discos voadores. Mas em 1999, por conta do sucesso que o Ratinho fazia numa outra emissora, o programa voltou. Acompanhávamos acontecimentos rumorosos, lembro que preparamos um especial sobre a morte do Paulo César Farias, mostrando que ele foi assassinado, com cenários especiais, uma produção esmerada.

Mas a revista ISTOÉ veio e estampou primeiro a história na capa.

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"O Fantástico deixou de ser o show da vida.
Para ver bicho, bicho, bicho,
melhor o National Geographic"

ISTOÉ – O sr. voltaria a coordenar uma emissora de tevê?
Daniel – Já ultrapassei essa etapa de minha vida. O que tinha de fazer já fiz, agora estou em outra praia. Vou lembrar aquela velha discussão sobre Pelé. Alguns jovens que não o viram jogar dizem que se ele entrasse em campo hoje não conseguiria repetir as jogadas maravilhosas. Não sei. Mas comigo se dá o mesmo, eu jogava um outro futebol. Hoje, o futebol é diferente. Os melhores jogadores estão fora do Brasil, ganham milhões e passam a usar salto alto. Da mesma forma, o que se vê hoje é uma outra televisão.

ISTOÉ – O sr. se classificou como noveleiro. Não tem saudade de dirigir novela?
Daniel – Não teria nem condição física para acompanhar o ritmo. Hoje é preciso gravar na Índia, na China, em não sei onde. Imagina viajar dezenas de horas de avião, chegar lá na Índia e ainda pedir para o ator fazer cara de feliz, no meio daquela multidão, debaixo daquele sol, com aquele cheiro. Não aguentaria isso. Fui o primeiro a dirigir uma novela brasileira gravada em Londres, o primeiro a gravar em Lisboa, o primeiro a gravar em Nova York. E ponto final.

ISTOÉ – Por que o sr. não participa de festivais?
Daniel – Não acredito que tenha feito algum filme para ser exibido numa competição dessas. Mas, de qualquer forma, tenho muito medo de festival, seja de Cannes, seja de qualquer outro. Eles podem liquidar um filme. Coloca-se na mão de cinco ou seis pessoas o destino do seu trabalho. Já participei de júris e sei como aquela coisa funciona.

ISTOÉ – Como produtor de cinema, que tipo de filme o sr. busca?
Daniel – Não tenho nenhum preconceito. Isso me leva a fazer tanto o filme do Renato Aragão quanto o Central do Brasil. Meu parâmetro é ser um filme que eu acho que tenha um público, uma boa história e que ocupe um espaço ainda não ocupado. Atualmente, estou procurando histórias infanto-juvenis. Acabei de comprar os direitos de Pluft , o fantasminha e vai virar filme.

ISTOÉ – O sr. sente que seu trabalho é reconhecido?
Daniel

A crítica cinematográfica realmente não é muito gentil comigo. Há um pé atrás, um preconceito por eu ser uma pessoa oriunda da televisão. Dizem que tudo o que faço é televisivo, dizem que a minha narrativa é claudicante, pedestre, ou qualquer coisa assim, por ter o estilo da tevê. Não entendo o que isso quer dizer. Outros dizem que faço sempre o mesmo gênero. Juro que pensava que estava fazendo obras diferentes.

ISTOÉ – A que atribui esse tratamento?
Daniel

Preconceito. Tenho sobre a minha cabeça uma coisa que se chama plim plim. Os anos e anos em que estive na Globo me marcaram. Sou um dos fundadores da emissora, o criador do seu padrão de qualidade. Isso é uma coisa que me acompanha. Outro dia estava andando na rua e uma senhora veio reclamar comigo da novela. Tentei dizer para ela que não tenho nada a ver com aquilo. Mas ela não me ouvia, me dizia o que eu deveria fazer com a trama. Tentei dizer que não estou na tevê há nove anos. Ela não me ouviu. Então, para me livrar da situação, lhe disse: "Ok, vou fazer o que a senhora está dizendo." E fui embora.

ISTOÉ – O sr. vê televisão?
Daniel

O cinema foi me ocupando e tenho de ver muitos filmes. Não tenho visto tevê. Assisto a alguns trechos de programas, novelas, seriados. Via um pouco mais no ano passado.

ISTOÉ – Gostou do que viu?
Daniel

Não. As tramas têm muitos atores e personagens e, para um telespectador eventual como eu, fica difícil assistir e saber do que se trata.

Vejo e me pergunto: "Essa pessoa está chateada por qual motivo?" Antes as novelas eram mais concisas, e uma das coisas que eu fazia como noveleiro era estabelecer que em todos os capítulos se deveria laçar quem estava assistindo àquilo pela primeira vez. Era uma lei da novela. Esse excessivo número de personagens talvez se deva ao fato de elas serem muito longas. Não é fácil fazer 220 capítulos com uma hora de duração.

ISTOÉ – A tevê não prende sua atenção?
Daniel

A última vez que me vi sentado e fiquei um tempo diante da telinha foi por causa de um programa muito ruim. Não vou dizer qual. Fiquei tão abismado diante do que estava assistindo, era tão mal representado, inverossímil, que eu fiquei paralisado.

Isso é um tipo de fascínio típico da televisão. No cinema, a pessoa levanta e vai embora. No caso da tevê, a pessoa fica assistindo. Minha mãe disse uma vez uma coisa muito engraçada.

Ela acompanhava uma novela da Rede Manchete, e dizia: "É muito ruim." Um dia eu lhe perguntei: "Mas mamãe, se é ruim, por que a senhora assiste?" Ela respondeu: "Quero ver até onde eles vão chegar."

ISTOÉ – O que acha do Big Brother?
Daniel

Aquilo é um circo humano. As pessoas ganham dinheiro, se tornam atrizes, saem peladas numa revista, são convidadas para baile de debutante. Dentro do que se propõe é benfeito, mas não deixa de ser um circo humano. Isso existe desde tempos antigos, tinha o Coliseu, onde as pessoas eram entregues aos leões. Agora é gente comendo gente.

ISTOÉ – O ibope da Rede Globo tem di minuído paulatinamente. Foi ela que piorou ou as emissoras concorrentes melhoraram?
Daniel

As concorrentes não melhoraram. Tenho muitos amigos na Globo, mas sou obrigado a dizer que ela está precisando dar uma mexida na grade de programação. Não estou lá e é fácil falar como crítico, sem saber as dificuldades pelas quais estão passando. Apareceu o João Emanuel Carneiro e fez uma novela policialesca (A favorita), mas sem uma coisa vital para esse gênero, que é amor. Quem manda na diversão é a mulher e ela gosta de ver beijo na boca.

ISTOÉ – Mas para que o beijo na boca dê audiência é preciso que o par tenha carisma. O sr. vê atores com essa qualidade?
Daniel

Tem pares aí, sim, mas pode ser que as pessoas não tenham encontrado a química. Quando coloquei Glória Pires e Tony Ramos para estrelar o filme Se eu fosse você, era a primeira vez que trabalhavam juntos. Eu não sabia. Não é só pelos atores, há também o cozinheiro, que deve saber juntar os ingredientes. Há atores bem competentes por aí; agora a junção deles nos papéis depende dos cozinheiros.

ISTOÉ – Tem visto os programas de humor?
Daniel

Dos humorísticos vi o Toma lá, dá cá. Alguns estavam bons, outros nem tanto, era muito variável, dependia muito das circunstâncias.

ISTOÉ – Tem visto os programas de humor?
Daniel

Dos humorísticos vi o Toma lá, dá cá. Alguns estavam bons, outros nem tanto, era muito variável, dependia muito das circunstâncias.

O Cas seta & Planeta tem sempre uma piada ou uma sacada boa. A grande família não vejo há tempo, mas quando assisti achei o Pedro Cardoso sensacional.

ISTOÉ – Um dos únicos programas criados na sua época que continua no ar é o Fantástico. O que acha dele?
Daniel

Parei de ver o Fantástico porque ele deixou de ser o "show da vida". Sempre que sentava para assistir era bicho, bicho, bicho. Melhor ver o National Geographic. Ou, então, era fulano que viajou para não sei onde, para fazer determinada matéria, ou o repórter que voou de balão. Não é mais aquela revista eletrônica que criamos tempos atrás.

ISTOÉ – O sr. teria alguma sugestão para a tevê brasileira?
Daniel

Na década de 1980, desbanquei seriados americanos famosos como Kojak, Havaí 5-0 e Baretta com os seriados brasileiros. Plantão de polícia, Carga pesada e Malu mulher fizeram muito sucesso. Tanto que os enlatados estrangeiros saíram do ar.

Não gosto dos seriados da tevê fechada dos quais falam tantas maravilhas. Vi Sex and the city e achei uma bobagem. Dos programas desse tipo que vi ultimamente o mais interessante foi aquele 24 horas, uma boa sacada. Acho que há espaço para séries brasileiras.

ISTOÉ – O alto custo de produção é um problema?
Daniel

Espero que essas novas leis de incentivo à cultura ajudem a motivar a criação de novos seriados brasileiros. Também há outros caminhos, outras ideias que podem ser aproveitadas. O programa Cilada, do Bruno Mazzeo, é uma boa ideia e bem realizada. Além disso, o orçamento é baratinho.

ISTOÉ – Tem algum programa que o sr. se arrepende de ter criado?
Daniel

Criamos um programa que tiramos do ar quatro meses depois da estreia porque nos matava de vergonha. Era o Linha direta. Tratava de casos de polícia, aparição de discos voadores. Mas em 1999, por conta do sucesso que o Ratinho fazia numa outra emissora, o programa voltou. Acompanhávamos acontecimentos rumorosos, lembro que preparamos um especial sobre a morte do Paulo César Farias, mostrando que ele foi assassinado, com cenários especiais, uma produção esmerada.

Mas a revista ISTOÉ veio e estampou primeiro a história na capa.

ISTOÉ – O sr. voltaria a coordenar uma emissora de tevê?
Daniel

Já ultrapassei essa etapa de minha vida. O que tinha de fazer já fiz, agora estou em outra praia. Vou lembrar aquela velha discussão sobre Pelé. Alguns jovens que não o viram jogar dizem que se ele entrasse em campo hoje não conseguiria repetir as jogadas maravilhosas. Não sei. Mas comigo se dá o mesmo, eu jogava um outro futebol. Hoje, o futebol é diferente. Os melhores jogadores estão fora do Brasil, ganham milhões e passam a usar salto alto. Da mesma forma, o que se vê hoje é uma outra televisão.

ISTOÉ – O sr. se classificou como noveleiro. Não tem saudade de dirigir novela?
Daniel

Não teria nem condição física para acompanhar o ritmo. Hoje é preciso gravar na Índia, na China, em não sei onde. Imagina viajar dezenas de horas de avião, chegar lá na Índia e ainda pedir para o ator fazer cara de feliz, no meio daquela multidão, debaixo daquele sol, com aquele cheiro. Não aguentaria isso. Fui o primeiro a dirigir uma novela brasileira gravada em Londres, o primeiro a gravar em Lisboa, o primeiro a gravar em Nova York. E ponto final

ISTOÉ – Por que o sr. não participa de festivais?
Daniel

Não acredito que tenha feito algum filme para ser exibido numa competição dessas. Mas, de qualquer forma, tenho muito medo de festival, seja de Cannes, seja de qualquer outro. Eles podem liquidar um filme. Coloca-se na mão de cinco ou seis pessoas o destino do seu trabalho. Já participei de júris e sei como aquela coisa funciona.

ISTOÉ – Como produtor de cinema, que tipo de filme o sr. busca?
Daniel

Não tenho nenhum preconceito. Isso me leva a fazer tanto o filme do Renato Aragão quanto o Central do Brasil. Meu parâmetro é ser um filme que eu acho que tenha um público, uma boa história e que ocupe um espaço ainda não ocupado. Atualmente, estou procurando histórias infanto-juvenis. Acabei de comprar os direitos de Pluft , o fantasminha e vai virar filme.