O piquete reunido em frente ao quartel-general da BBC, rede inglesa de comunicação, era descrito por um jornalista como um grupo de baby boomers insatisfeitos, em referência à geração nascida na explosão demográfica no pós-Segunda Guerra. Mas o psicólogo David Markham sabe que o problema é muito mais grave. Aqueles homens e mulheres eram profissionais liberais da Marina Chelsea, um condomínio classe média-média, organizados para destruir nada menos que o século XXI. Esse é o tema de Terroristas do milênio (Companhia das Letras, 328 págs. R$ 44), o novo livro de J. G. Ballard, autor de O império do sol e Crash, ambos adaptados para o cinema.

Os terroristas de Ballard são comandados pelo pediatra Richard Gould, pela professora de cinema Kay Churchill e pela especialista em explosivos Vera Blackburn, ex-funcionária do Ministério da Defesa. Ela é responsável pelas
bombas incendiárias plantadas em exposições de gatos, agências de viagem, videolocadoras, numa escalada que atinge alvos da magnitude do National Film Theatre e da Tate Modern. Tudo para dar fim ao sonambulismo que guia os novos proletários do mundo: a classe média. Para Gould, o ataque ao World Trade
Center em 2001 foi uma tentativa corajosa de libertar os Estados Unidos do século XX. O psicólogo Markham, anti-herói do livro, aproxima-se do grupo para saber se eles também são os autores da explosão no aeroporto de Heathrow, que matou
sua primeira mulher. Aos poucos vê-se envolvido. Assim, o estilo de Ballard, saudado por ícones como Anthony Burguess e Susan Sontag e aceito pela nova geração de escritores, caso de Martin Amis, cativa ao misturar análise social com entretenimento de primeira linha.