LIVROS

O que é ballardiano?

A exemplo do adjetivo kafkiano (de Franz Kafka) usado para definir algo absurdo, os dicionários ingleses já registram o termo ballardiano (derivado do nome do escritor britânico J. G. Ballard) como sinônimo de incompatibilidade entre um indivíduo e a ausência de valores morais dos dias de hoje. É esse o cenário do romance O mundo do amanhã (Companhia das Letras, 368 págs., R$ 54), no qual um publicitário desempregado investiga a morte de seu pai em um shopping center de um subúrbio londrino. Aos poucos, ele descobre que nesse ambiente consumista viceja uma violenta tensão étnica contra imigrantes asiáticos e do Leste Europeu. Para Ballard, que parece falar de um futuro próximo mas sempre se refere ao presente, trata-se de um novo fascismo.

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FOTOGRAFIA

São Paulo em mutação

O fotógrafo italiano Aurélio Becherini registrou a grande transformação por que passava São Paulo no início do século XX. Nas suas fotos datadas de 1904 e 1934 convivem charretes e automóveis, palacetes art nouveau e os primeiros espigões, numa confusão visual que ele organiza com elegância. Agora 200 delas ganham edição luxuosa no livro Aurélio Becherini (Cosac Naify, 236 págs., R$ 42 ), a primeira publicação de sua obra pioneira em 70 anos.

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+5 livros de Ballard

 
CRASH Romance sobre pessoas que se excitam com acidentes de carros, levado para as telas por David Cronenberg

IMPÉRIO DO SOL Trata de uma criança que se perde dos pais após os ataques à base de Pearl Harbour. Virou filme de Spielberg

TERRORISTAS DO MILÊNIO Para vencer o tédio, profissionais liberais passam a cometer atentados a lojas, museus e locadoras

SOMBRAS DO IMPÉRIO Continuação de Império do sol, com a narrativa prolongandose até o pósguerra na Inglaterra

CATACLISMO SOLAR Escrito em 1962, trata do aquecimento global e mostra Londres como um enorme pântano
 

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CINEMA

Melancolia argentina

Para quem assistiu a As leis da família, filme anterior do argentino Daniel Burman, o seu novo longa, Ninho vazio, parece uma continuação. O foco é a transformação das relações familiares depois que os filhos, já adultos, saem de casa. O ator Oscar Martinez interpreta o pai, Leonardo, um dramaturgo em busca de um norte para o seu trabalho. Sua mulher, Martha (Cecília Roth), diverte-se promovendo recepções em casa, o que não disfarça as dificuldades que ela própria vem enfrentando. Filmada com sutileza, a crise do casal transparece em diálogos inspirados, melancólicos e divertidos.

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CINEMA II

Racismo em xeque

Em Gran Torino (cartaz no dia 6/2), Clint Eastwood interpreta o viúvo Walt Kowalski, um homem racista, amargo e veterano da guerra da Coréia que vive afastado de todos. Ele passa a ter como novos vizinhos uma tranquila família da etnia Hmong (sul da China), mas, apesar de sua intolerância com os asiáticos, se aproxima do adolescente Thao. O garoto havia sido forçado por uma gangue a roubar um carro Gran Torino 1972. Um violento ataque sofrido pela família de Thao leva Kowalski a agir de forma radical num último gesto de redenção.

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 MÚSICA

O mouro de Valença

Chama-se Ciranda mourisca o novo CD do cantor e compositor pernambucano Alceu Valença – e como o próprio nome sugere, as 12 faixas são cirandas, um ritmo que segundo ele tem a ver com festas realizadas à beira das praias. A presença desse gênero musical tipicamante nordestino nos discos de Valença não é novidade. Tanto é assim que todas as músicas já foram gravadas por ele no passado, exceção feita a Ciranda da rosa vermelha, conhecida pela interpretação de Elba Ramalho. É o que ele chama de "lado B" de sua carreira. A verdadeira novidade fica por conta dos arranjos com viola que remetem à música árabe. Eis, enfim, o mourisco de Alceu.

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AGENDA

 
A MORTE DE GEORGE W. BUSH

(Cinemax, 31/1, 4/2 e 6/2) – Ficção em forma de documentário sobre o suposto assassinato do ex-presidente dos EUA

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JORGE GUINLE EM BELO CAOS

(MAM, São Paulo, até 22/3) – Primeira grande retrospectiva do pintor carioca (morto em 1987) composta por 33 pinturas e 20 desenhos de intenso colorido e traços largos

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MOSTRA SUTIL – 15 ANOS

(Teatro do Sesi, São Paulo, até 4/4) – Reapresentação dos espetáculos A vida é cheia de som e fúria, Avenida Dropsie e Não sobre o amor, da Sutil Companhia de Teatro

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