i91341.jpg

HISTÓRIA REPRODUZIDA O ator Sean Penn (acima) interpreta com extrema perfeição o ativista Harvey Milk.

No momento em que o libertário filme Milk – a voz da igualdade (estreia no Brasil na sexta-feira 6) é indicado a oito Oscar, os EUA dão um passo para trás no terreno das liberdades civis: a vitória da chamada Proposição Oitava na Califórnia, uma emenda conservadora que voltou a proibir o casamento de gays e lésbicas naquele Estado. Trata-se de um fato que não teve tanta repercussão, mas que torna o enredo do filme do cineasta americano Gus Van Sant extremamente atual. Milk – a voz da igualdade resgata a trajetória de Harvey Milk, o primeiro ativista declaradamente gay a se eleger para um cargo público com uma plataforma em defesa dos homossexuais.

E isso em São Francisco, na mesma Califórnia, só que no início dos anos 70. Milk, numa inesquecível interpretação de Sean Penn (que disputa o Oscar de melhor ator com Brad Pitt), teve uma subida meteórica na militância. Ele só saiu do armário aos 40 anos, quando conheceu o namorado Scott Smith, com quem deixou Nova York em direção à ensolarada Costa Leste em 1972. No filme, Penn beija na boca o ator James Franco. Após Natália Rangel N o beijo, ele ligou para a ex-mulher Madonna e disse que tinha se lembrado muito dela.

i91342.jpg

Uma manifestação real liderada por Milk nos anos 70 nas ruas de São Francisco

Em São Francisco, o ativista abriu uma loja na hoje lendária rua Castro, endereço que se tornou o quartel-general da luta pelos direitos dos homossexuais e começou a se mobilizar ao tomar conhecimento da violência policial e do cerceamento da liberdade dos gays. Passou a discursar em palanques improvisados, e conquistou e encorajou milhares de homens na mesma situação a assumirem e viverem bem com sua condição. A frase com que iniciava as suas falas se transformou num chamado à luta: "O meu nome é Harvey Milk. E estou aqui para recrutá-los." O senso de humor e a ousadia de suas intervenções públicas fizeram a adesão ao movimento crescer e atrair gays de diversas partes dos EUA. Milk se candidatou e perdeu três vezes.

Na quarta tentativa ganhou uma cadeira numa subprefeitura distrital da cidade e aprovou uma das leis mais importantes para as liberdades civis: aquela que proibia a discriminação baseada na orientação sexual. O então prefeito geral de São Francisco, George Moscone, a sancionou e, detalhe, utilizou uma caneta azul-clara, que lhe foi dada por Milk no ato da assinatura. O crescimento da popularidade do primeiro político que publicamente se declarou gay alvoroçou os conservadores, mas ele seguiu em frente. Lançou uma grande campanha para que as pessoas recolhessem os dejetos de seus cachorros nas praças e parques.

Ganhou fãs e inimigos. Em novembro de 1978, Dan White, um de seus adversários, invadiu a prefeitura. Matou primeiro o prefeito, com três tiros, e depois se dirigiu ao gabinete de Milk, assassinando-o também. White recebeu uma pena de cinco anos de reclusão e, quando foi libertado, se suicidou. A morte de Milk levou 50 mil pessoas às ruas de São Francisco e ele se tornou um ícone da causa homossexual no país. O filme se baseia em seus relatos e conta passo a passo a sua ascensão. Termina com a seguinte frase: "Se uma bala atingir o meu cérebro, deixe que ela destrua também a porta de todos os armários."

Safra do Oscar

(estreias previstas para sexta-feira 6)

Dúvida

O filme é protagonizado por Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman. Aborda a pedofilia numa instituição católica. Concorre a quatro Oscar

i91343.jpg

O leitor

Kate Winslet é uma exvigilante de um campo de concentração nazista que tenta esconder o seu passado. Concorre a dois Oscar

i91344.jpg

O lutador

O ator Mickey Rourke é um campeão de luta livre aposentado que decide voltar aos ringues. Concorre a dois Oscar

i91345.jpg