Nos anos 80, os gaúchos do Engenheiros do Hawaii, Replicantes, DeFalla, Garotos da Rua e TNT lançaram a coletânea Rock Grande do Sul e provaram que se fazia muito mais barulho além do eixo Rio–São Paulo. Se para os paulistanos e cariocas esses artistas eram novatos, em seu Estado natal já eram ídolos de longa data. O tempo passou, e agora uma nova geração de músicos sulistas surge com força total e dispostos a ocupar seu posto no cenário pop nacional. Com a diferença de que nomes como Cachorro Grande, Ultramen, Bidê ou Balde e Papas da Língua recusam o rótulo de “rock gaúcho”. Porque, sim, todos são gaúchos, mas cada um faz um tipo de som diferente.

Pista livre é o terceiro álbum do Cachorro Grande, mas o primeiro a ser lançado por uma grande gravadora. Masterizado na Abbey Road, o estúdio preferido dos Beatles, o disco traz o bom e velho rock’n’roll com os vocais-gritaria de Beto Bruno. As letras são divertidas e descompromissadas. “Tem quem cobre um som mais engajado, mas não temos essa obrigação. Isso é coisa das bandas dos anos 80, que tiveram uma adolescência difícil na ditadura. Temos a nossa verdade”, explica Bruno. Com tanta sinceridade no som e no discurso, o Cachorro Grande – o nome vem do ditado “Em briga de cachorro grande não se põe a mão” – conquistou até os mais radicais. “É um dos melhores grupos que existem atualmente. O resto do Brasil precisa ouvir esses caras”, recomenda o roqueiro Lobão.

Revelação – Mais conhecido, contudo, é o Bidê ou Balde. Em 2001, foram eleitos a banda revelação do ano pela MTV com o hit-chiclete Melissa. O vocalista Carlinhos define o som como new wave pesado. “Essa mania de colocar todo mundo no mesmo balaio e classificar como ‘rock gaúcho’ é coisa do passado. Nego o rótulo, mas não deixo de ter orgulho”, brinca. Carlinhos divide os vocais com a bela Vivi, e o figurino da banda bem que lembra o B-52’s. Diz a letra de Microondas: “Todo mundo sempre está/Onde todo mundo vai/ Todo mundo dá palpite/Todo mundo tem convite.” Puro deboche.

De tão dispostos a conquistar fãs em todo o mapa e provar que a cena atual é bem mais do que se imagina, Cachorro Grande, Bidê ou Balde e os conterrâneos do Ultramen e Wander Wildner se uniram na coletânea Acústico MTV bandas gaúchas. Para Wildner, que, além de tocar com o Replicantes, tem um projeto solo de música punk-brega, a empreitada tem gostinho de flash-back. “Reconheço nessas novas bandas aquela mesma vontade que tínhamos no passado. A diferença é que agora o contato com o público alternativo de todo o País ficou mais simples com a internet. Hoje em dia é possível organizar uma turnê por e-mail.”

E gravar em esquema independente, como Thedy Corrêa, do Nenhum de Nós,
que lançou Loopcinio, com versões eletrônicas do conterrâneo Lupicínio Rodrigues, e o Papas da Língua, que chega com Simplesmente ao vivo, ambas pelo selo gaúcho Orbeat. Tonho Crocco, voz e guitarra do Ultramen, que há 15 anos faz
uma mistura de rock com hip-hop e samba, vai mais longe. “Pode até ser que o grande público do Rio e de São Paulo não conheça o nosso trabalho, mas no
circuito alternativo todo mundo tem informação, independentemente de que Estado venha a música”, diz. “Antes de sermos bandas gaúchas, somos bandas brasileiras.” Ou, como quer Lobão, MPB.