Veio uma solução. Não a ideal, mas ao menos uma saída. A Varig, que perdeu o status de maior companhia aérea do Brasil, foi finalmente vendida na quinta-feira 20, em leilão no Rio de Janeiro. Como previsto, foi dividida em duas. A Varig nova, sem dívidas, e a Varig velha, com passivos de R$ 8 bilhões. A parte boa foi comprada pela ex-subsidiária Varig Log. O preço? US$ 24 milhões (R$ 52,3 milhões) – uma fração do preço mínimo do leilão anterior, de US$ 860 milhões. A Varig Log, controlada pelo fundo americano de investimentos Matlin Patterson e os empresários Marcos Haftel, Luis Eduardo Gallo e Marco Antonio Audi, comprometeu-se a investir mais US$ 485 milhões na companhia.

Esperava-se que, com a venda da Varig, seus aviões voltassem logo a voar. Nas últimas semanas, milhares de vôos foram cancelados e os passageiros tiveram de embarcar em outras companhias. A própria Varig Log havia adiantado US$ 20 milhões para manter a Varig operando. Mas o futuro continua indefinido. Tão logo assumiu a empresa, a Varig Log cancelou por tempo indeterminado todos os vôos remanescentes no Brasil e no Exterior – exceto os da ponte aérea Rio–São Paulo, a linha mais lucrativa. Para fazer caixa, aumentou os vôos diários entre os aeroportos de Congonhas e Santos Dumont de dez para 36. Os passageiros que ficaram na mão serão atendidos pelas concorrentes, conforme o plano de emergência da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Num primeiro momento, com os aviões no chão, 9.500 funcionários serão demitidos. Somente 1.680 permanecerão para manter 13 aeronaves em operação. Mesmo assim, muitos deles emocionaram-se no leilão, na expectativa de receber salários atrasados e, quem sabe, o emprego de volta. Os novos donos não fazem promessas. “Nossa idéia é aproveitar ao máximo a experiência que os empregados da companhia acumularam ao longo desses anos, mas tudo dentro de um equilíbrio necessário”, afirmou João Luis Bernes de Souza, presidente da Varig Log.

Por pouco a Varig não foi à falência. Isso só não aconteceu devido ao empenho do juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, em buscar uma saída alternativa. Por isso, foi muito aplaudido ao final do leilão. Funcionário aposentado da Varig há 16 anos, Amaury Guedes, 71, foi ao auditório com uma bandeira do Brasil e um cartaz com a inscrição “L. R. Ayoub, 100% Justiça”. “Essa venda é um paliativo, vai tirar a empresa da UTI, mas já é um progresso”, afirmou.

O governo, maior credor da Varig, poderia tê-la encampado, promovido um acerto de contas (a União deve mais de R$ 4,5 bilhões e os Estados, R$ 1 bilhão) e a saneado, vendendo-a mais tarde por seu valor real. Mas limitou-se a prometer ajuda financeira do BNDES ao comprador. A coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa da Varig, a deputada Ieda Crusius (PSDB-RS), criticou a falta de iniciativas oficiais para salvar o maior símbolo da aviação nacional. “A venda não tem nada a ver com qualquer ato administrativo do governo”, reclamou.

O Palácio do Planalto contentou-se com a saída de mercado, que evitou o pior e minimizou os danos à imagem do presidente Lula em pleno ano eleitoral. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, classificou o desfecho de “satisfatório”. “Foi bom não ter havido a falência da Varig”, disse o ministro da Defesa, Waldir Pires. O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, limitou-se a fazer uma avaliação pragmática: “Foi a melhor solução que apareceu. Muitas vezes, o ótimo é inimigo do bom.” Será?